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Eduardo Campos, assim como João Pessoa, morreu em campanha

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Eduardo Campos (PSB) é um dos importantes políticos brasileiros a morrer durante campanha eleitoral. O primeiro foi assassinado durante campanha para vice-presidente da chapa de Getúlio Vargas, em 1930. A morte de João Pessoa mudou os caminhos da história brasileira, assim como a morte de Campos pode mudar toda a configuração atual. A morte de Pessoa é apontada como estopim para a Revolução de 30, movimento armado que deu um golpe e impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes. Esse período foi essencial para a história do país, dando fim ao período da República Velha e o começo da Era Vargas.

João Pessoa foi assassinado no dia 26 de julho de 1930, durante campanha para vice-presidente e causou um reboliço na política nacional. “Pessoa foi assassinado não por causa da política, aparentemente foi um crime passional, por causa de relações extraconjugais, mas acabou sendo usado como um crime político". Pessoa teria divulgado cartas de João Dantas, seu inimigo político, que o matou com tiros, como vingança. Dantas depois foi degolado e imagina-se que foi uma resposta à morte de Pessoa. "A imprensa, na época, era muito limitada, era tudo por telegrafo, então a morte de Pessoa pode ser fortemente criticada e manipulada. Houve uma real manipulação pelos elementos que estavam em torno de Vargas”, comenta o historiador e cientista social Francisco Carlos Teixeira.

Acontece que a política do café com leite vigente na época tentava manter no poder as oligarquias políticas dos estados mais importantes da época da Primeira República: Minas Gerais e São Paulo (grandes produtores de leite e café respectivamente) se revezavam no poder através da influência política dos principais partidos dos estados. O Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM) governavam cada um por um mandato, através de fraudes eleitorais e usando suas forças políticas.

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Em 1929, o PRP indicou Júlio Prestes, um paulista para a presidência. Isso contrariava a política do café-com-leite, que ditava que essa era a vez de um mineiro. Assim, o PRM apoiou o gaúcho Getúlio Vargas. Quando finalmente acontece a eleição e Prestes ganha, a comoção pela morte de Pessoa foi usada como uma das formas de se fazer aceitar o golpe que se deu. Prestes é impedido de assumir e entra Vargas.

Além da morte de Pessoa, outros fatores deixavam a situação política propícia para um golpe. “A gente estava numa situação de depressão econômica gravíssima. Os dois grandes estados, produtor para o país estavam em depressão muito forte. Washington Luis deu o que chamamos de ‘um golpe de mão’, é uma expressão que quer dizer que ele virou a mesa. O candidato deveria ser o governador de Minas Gerais e não Prestes. Washington Luiz considerou que um não paulista poderia prejudicar os interesses da cafeicultura de são Paulo e talvez não fizesse o que eles queriam: a compra do café pelo governo federal para aliviar os cafeicultores paulistas. A candidatura de não só favorece a aliança varguista, representando os estados fora do pacto, como também quebra o pacto entre MG e SP”, completa Teixeira.

Para o Brasil, a Era Vargas foi uma das mais importantes em termos de infraestrutura, modernização, industrialização e direitos sociais e trabalhistas. “As forças da aliança varguista tinham um projeto modernizante e industrialista, enquanto são Paulo e minas, a renovação do agrarismo, que prevaleceu durante a república oligarquia. O governo de Prestes, se ele tivesse ganhado, seria a manutenção do status quo”, reflete Teixeira.

A conclusão é que o apoio político de Pessoa talvez não tivesse sido tão definitivo para a “vitória” de Vargas quanto foi sua morte. Pessoa tinha uma grande influência política em Pernambuco, terra de Campos. Era sobrinho de Epitáfio Pessoa, que fora presidente entre 1919 e 1922. O fato da morte de Pessoa não ter conotação política não impediu que ele se tornasse um estopim para uma grande mudança, assim como a morte de Eduardo Campos pode mudar o panorama eleitoral atual de forma inesperada.