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Proposta de Alckmin pode prejudicar o abastecimento no Rio

A longo prazo, São Paulo também pode sofrer as consequências do uso indevido dos recursos hídricos

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A proposta do governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), de dividir com o Rio de Janeiro a captação da água do Rio Paraíba do Sul, a longo prazo, pode trazer problemas para os dois estados. Buscar o equilíbrio na distribuição da água para os dois maiores consumidores do país, sem quebrar a vazão mínima permitida, pode ser ainda mais difícil por se tratar de uma medida emergencial. Conhecendo os riscos, a presidente Dilma Rousseff solicitou estudos da Agência Nacional de Águas (ANA) para ver a possibilidade da liberação.

Segundo o professor do Instituto de Geologia e Geofísica da UFF Jefferson Silveira, 50% do abastecimento do Rio de Janeiro vêm do Paraíba do Sul. Com isso, além da capital, municípios vizinhos também são beneficiados, alcançado cerca de 85% da população. Jefferson acredita que a decisão pode beneficiar os paulistas como medida emergencial, mas atenta para a necessidade de estudos aprofundados dos impactos. “Esse compartilhamento pode ser viável, mas é preciso uma gestão séria da bacia hidrográfica. Será preciso um reservatório, um túnel e outras medidas capazes de gerir conscientemente os recursos hídricos”, observa o professor.

Jefferson também alertou para que as mudanças não sejam feitas baseadas em estudos não aprofundados. “Mesmo se tratando de uma medida emergencial, não pode ser feito da noite para o dia. Precisamos ter respeito pela água. O uso indevido dela pode trazer problemas muito maiores do que escassez no abastecimento”, disse o professor.

Em 1952, um protocolo foi assinado a fim de criar uma oferta hídrica relevante na Bacia receptora do rio Guandu, que se tornou o principal manancial de abastecimento de água da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e de várias indústrias e termelétricas. Segundo o professor, se a medida por Alckmin for aprovada, será necessário anular o protocolo que gere a utilização dos recursos há 61 anos.

A estiagem prolongada vem causando problemas no abastecimento da capital paulista desde o início do ano. Um relatório do Comitê Anticrise aponta que a quantidade de água no sistema está abaixo do registrado em 1953, considerado o ano da pior seca da história. Apesar do volume útil do Sistema Cantareira estar sendo controlado, o índice baixou para 14,7%. No mesmo período do ano passado, o sistema operava com 59,8%.

Interligação de reservatórios

Alckimin anunciou um novo projeto, ainda em fase de aprovação, para evitar que o problema de redução da capacidade do Sistema Cantareira se repita. A princípio, a proposta prevê a interligação dos reservatórios do Jaguaí e de Atibinha. A estimativa é que a obra fique pronta em dois anos e custe R$ 500 milhões.

O governador afirmou que não utilizará o “volume morto” do Cantareira em sua totalidade. A reserva é de 400 milhões de metros cúbicos. Ainda segundo o governador, a Sabesp está gerindo o volume para que, no inverno, sejam retirados 196 milhões de metros cúbicos, o que a ainda deixaria a reserva de 204 milhões. 

*Do Projeto de Estágio do Jornal do Brasil