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Macarrão nega sequestro e diz que Eliza quis ir ao sítio de Bruno

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Em meio a uma grande expectativa por revelações importantes no julgamento do caso Eliza Samudio, Macarrão iniciou seu depoimento no fórum do Contagem (MG), no fim da noite desta quarta-feira, afirmando que ainda não contou ao júri tudo que sabe: "hoje estou com oportunidade de falar. Queria falar, sempre quis", disse.

Nas primeiras declarações sobre o caso, o amigo de Bruno contou que levou o goleiro para conhecer o filho de Eliza no Rio de Janeiro e que atrasou o pagamento da pensão por vontade do atleta, o que irritava a mulher. Por conta das cobranças, Jorge, primo do ex-flamenguista, teria se irritado e dado uma cotovelada em Eliza dentro do carro de Bruno, o que explicaria o sangue encontrado (que, segundo a acusação, teria sido causado por uma coronhada).

Macarrão negou andar armado e ter sequestrado Eliza. De acordo com o depoimento, ela teria ido ao sítio de Bruno por vontade própria.

"As dívidas com Eliza não foram quitadas. Eu cumpria ordem. Tinha atrasado, ela também falava que queria mais. Ela sempre xingava muito. Eu pedia calma", contou.

De acordo com a versão de Macarrão, Eliza estava hospedada no Hotel Transamérica, no Rio de Janeiro, e fazia várias ligações ao seu celular para cobrar uma quantia de R$ 1,5 mil. Ele evitava atender o telefone por não ter a quantia, mas marcou um encontro em um restaurante para conversar, acompanhado de Jorge Rosa, primo do goleiro, hoje com 19 anos.

"O menor (Jorge Rosa) estava alterado. Xingava muito. Ele era usuário. Como eu tinha a fama de puxa-saco e falava as verdades para o Bruno e não prestava atenção, por isso que tem divergência comigo", descreveu.

Macarrão teria dado R$ 800 para Eliza, que pedia mais. A insistência teria irritado Jorge. Dentro da Land Rover do goleiro, na qual estariam os três voltando para o hotel, o primo de Bruno teria se irritado com as cobranças e deu uma cotovelada no nariz de Eliza.

"Me recordo que Jorge falou 'olha a mulher que o Bruno foi se meter'. Estavam eu, Jorge, Eliza e o bebê. O Jorge começou a ofender a Eliza. Jorge falava: 'por que o Bruno vai se meter com esse tipo de gente?'. Ela revidou? 'tá achando que seu primo é o quê? Ele tá se achando Rogério Ceni. Seu primo é um filho da p...". Foi onde começou. Ele deu uma cotovelada na cara dela. Quero deixar claro que nunca andei armado, isso é fantasia. Eu vi sangrando o nariz dela. Eu tentei separar e quase bati o carro", alegou Macarrão.

Segundo a acusação, o sangue encontrado no carro teria sido causado por uma coronhada de Jorge na cabeça de Eliza. "Quero deixar bem claro que eu nunca andei armado. Nunca houve essa fantasia de arma", afirmou.

Eliza teria, então, pedido para viajar a Belo Horizonte com Macarrão. Segundo Macarrão, não houve, portanto, sequestro. "Ela quis vir. Uma pessoa que está sendo sequestrada não compra Red Bull e não daríamos carona para um policial", comentou.

"Chegamos em Belo Horizonte ainda na madrugada. Paramos em um motel para dormir. Ele disse que ia para a casa da mãe dele, mesmo porque não dava para ir para o sítio porque não sabiam se a Dayanne (noiva de Bruno). Passamos no sítio para deixar os materiais esportivos (para um jogo em Minas Gerais). Eliza ficou com a chave do carro. Ela esteve no campo, ninguém disse isso. Se ele realmente tivesse sido sequestrada, poderia pular na frente da policia. O Bruno apresentou o bebê para todos", prosseguiu Macarrão.

"Acabou o jogo, nós ganhamos, sempre quando isso acontecia íamos confraternizar. Fomos para um bar. Eliza pediu para ir ao sítio, estava fazendo frio neste dia, ela quis ir para o sítio", disse.

O caso Bruno

Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.

No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.

No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.

No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.

No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola seriam levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores. No dia 19 de novembro de 2012, foi dado início ao julgamento de Bruno, Bola, macarrão, Dayanne e Fernanda.