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Morte de Carlos Nelson Coutinho deixa legado

Filósofo baiano difundiu obra de Gramsci no Brasil

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Falecido na manhã desta quinta-feira (20), o filósofo Carlos Nelson Coutinho, baiano de Itabuna, foi velado na capela da UFRJ e cremado na manhã de hoje (21), no Cemitério do Caju. Ainda sob o abalo da perda, causada por um câncer de pulmão diagnosticado em fevereiro, os inseparáveis amigos Leandro Konder, também filósofo, e sua mulher, Cristina, escreveram, abaixo, um texto a quatro mãos sobre a importância do pensador.

Carlos Nelson Coutinho

“endurecer sempre, sem perder a ternura jamais”.

 

“endurecer sempre, sem perder a ternura jamais”.

 

A morte do filósofo Carlos Nelson Coutinho nos desfia a um reexame das relações de um marxismo aberto, fundado em Gramsci e Lukács, com as complexas relações exigidas pela situação do campo socialista.

De um lado, temos um movimento tenso na história das ideias sociais, uma proposta que mudou o mundo nos últimos dois séculos, mas agora enfrenta o desafio de se renovar.

De outro lado, temos a agitação peculiar à ascensão da classe operária ao poder por caminhos bastante diferentes daqueles que haviam sido previstos pelo barbudo filósofo alemão: Karl Marx.

Foi nesse quadro que o filósofo brasileiro Carlos Nelson Coutinho empreendeu sua trajetória.

Desde bem cedo, em seus livros, Carlito (como era chamado por seus amigos) participou dos choques e tumultos característicos da nossa época conturbada.

Sua participação não demorou a se impor à consideração do pensamento de esquerda no Brasil.

Seria injusto, porém, ignorar a originalidade e o rigor das análises críticas feitas por Carlos Nelson, enquadrando-as em construções sistemáticas simplistas, desrespeitando as sutilezas do autor.

O texto de Carlos Nelson que teve maior repercussão, no período final da ditadura militar, foi “DEMOCRACIA COMO VALOR UNIVERSAL”. Nele o pensador assumia posições estupendamente claras na incitação ao confronto do projeto socialista com a cristalização dogmática das fantasias golpistas do liberalismo.

Mas, acima de tudo, Carlito era um militante. Não concebia a vida fora de um partido político, que compartilhasse seus ideais de construção de uma sociedade sem classes. Não era um simples intelectual. Era um intelectual comunista.

E um amigo e companheiro de todos os momentos, bons ou ruins. Sua maneira de agir, seu rigor intelectual, sua generosidade cabiam perfeitamente na famosa frase de Che Guevara: “endurecer sempre, sem perder a ternura jamais”.