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Mensalão deve ser pouco usado na campanha, diz especialista 

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Apesar da magnitude e importância do julgamento do mensalão, que se inciou na última quinta-feira, o tema deve ser pouco usado na campanha, na opinião do professor de Ética e cientista político da Unicamp, Roberto Romano.

capitais Para Roberto Romano, a tendência é de que, apesar da magnitude do caso, o mensalão não seja usado como arma de partidos de maior expressão.

"Os outros (partidos) também têm envolvimento em grandes casos semelhantes a esse. O DEM tem o mensalão em Goiás, o PSDB em Minas Gerais e outros partidos estão ligados ao esquema de certa forma. Por isso, seria uma péssima estratégia seguir essa linha na campanha", disse Romano ao Terra.

Além disso, segundo o cientista político, apesar da relação com os partidos, apenas um dos 38 réus que estão sendo julgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) - João Paulo Cunha, que segundo o Ministério Público (MP) recebeu propina de R$ 50 milhões no esquema e tenta se eleger agora prefeito de Osasco - disputará a eleição. Com isso, segundo Romano, mesmo que pertença a um partido envolvido com escândalos dessa magnitude, oscandidatos não devem sofrer impactos negativos, já que suas imagens não estão diretamente ligadas ao fato.

A repercussão negativa do julgamento do caso recairá sobre todos os partidos, e não apenas sobre o PT, na opinião do professor, que acredita que a população se atentará a classe política no geral e não somente a nomes e legendas.

CobrançaNa série de debates realizados na última quinta-feira, o tema foi citado em São Paulo e Porto Alegre, onde Fernando Haddad e Adão Villaverde sofreram com os questionamentos vindos de seus adversários, e procuraram minimizar a importância do caso, que começou a ser julgado justamente no dia do debate.

Em São Paulo, Carlos Giannazi (Psol) indagou Haddad primeiro sobre sua relação com o PP, do deputado federal Paulo Maluf, e posteriormente sobre o mensalão. Ao questionar sobre como o petista trabalharia "a contradição na aliança com Paulo Maluf", Giannazi atacou dizendo que "parece que vocês (PT) não aprenderam com a história do mensalão."

Haddad tentou minimizar a importância do caso, e afirmou que o governo do PT lutou contra a corrupção na capital paulista, na gestão de Marta Suplicy (2001-2004). Para isso, o petista afirmou que a ex-prefeita combateu forças empresariais e grandes esquemas de corrupção e que, por isso, teve até mesmo de usar colete à prova de balas para manter sua segurança.

Em Porto Alegre, coube também ao candidato do Psol, Roberto Robaina, a função de trazer à tona o tema e indagar o candidato petista Adão Villaverde. "Tu (Villaverde) representa a ala do José Dirceu (...) infelizmente o PT não aprendeu nada dessa lição (mensalão)", atacou Robaina.

Em discurso semelhante ao de Haddad, Villaverde também tentou minimizar os questionamentos e a importância do caso, e exaltou a legislação enquanto o PT estava na prefeitura de Porto Alegre, que, segundo ele, aumentou o combate à corrupção.

No final do debate, em entrevista, Robaina afirmou ainda que "Villaverde é o representante da ala do Zé Dirceu, o comandante do esquema do mensalão. A força que ele (Dirceu) tem no PT é tão evidente que, em Porto Alegre, garantiu a candidatura do Villaverde, derrotando nas prévias o ex-prefeito Raul Pont (deputado estadual)."

Crítico

Segundo Romano, ao apresentar sua crítica e cobrar a moralidade na política, como fizeram Giannazi e Robaina nos debates, o Psol cumpre seu papel como uma "legenda nova e de esquerda", função antes atribuída ao PT, que, após assumir a presidência com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, se viu também envolto em esquemas de corrupção.

"Por enquanto o Psol cumpre esse papel importante e que lhe cabe. Enquanto não tem seu próprio mensalão, o partido é mais pedra do que vidraça", afirmou.

O mensalão do PT

Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares, e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural Kátia Rabello e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e do irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.