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Após carta, Bruno ficará 20 dias sem visitas e banho de sol  

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A Comissão Disciplinar do Complexo Prisional de Minas Gerais determinou ao goleiro Bruno Fernandes 20 dias de punição pelo envio de uma carta a um programa de televisão sem a devida autorização. Nesse período, o atleta não poderá trabalhar, receber visitas, nem sair para tomar banho de sol. Divulgada nesta segunda-feira, a punição foi acertada depois de o goleiro depor sobre o envio da correspondência à TV Alterosa, em Belo Horizonte, pelo seu advogado, Rui Pimenta.

Na carta, o goleiro negou envolvimento na morte de Eliza Samudio, ex-amante dele, que desapareceu em 2010. "Estou pagando já dois anos de prisão por um possível crime que não cometi e nem ordenei". O goleiro ainda reafirmou o compromisso de criar o filho que Eliza dizia ser dele. "O Bruninho tem, sim, um pai, sempre teve, e vou honrar esse compromisso perante a sociedade," escreveu ele.

A Secretaria de Estado de Defesa Civil (Seds) afirmou que Bruno "cometeu erro disciplinar ao ignorar as regras de segurança do Complexo Penitenciário Nelson Hungria e enviar, fora dos trâmites legais, uma carta ao público externo à unidade, por meio de seu advogado". As normas determinam que todas as correspondências de presidiários passem por um departamento específico, para registro e conferência de teor. A Seds disse ainda que direção da unidade finalizará nesta semana os procedimentos administrativos para notificação à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre a atuação de Rui Pimenta no caso.

Na sexta-feira, quando a secretaria já havia informado sobre parte da punição, o advogado de Bruno reclamou da decisão. Segundo Pimenta, a carta saiu normalmente de dentro do presídio. "O que acontece é que agora eles querem punir o erro que eles tiveram com a primeira carta, com essa de agora que não tem nada a ver", afirmou ele, que se referia a carta divulgada pela revista Veja.

Nessa primeira carta, endereçada a Luiz Henrique Romão, o Macarrão, Bruno pede ao amigo para usar o "plano B", que, segundo a reportagem, seria assumir a culpa pela morte de Eliza e isentar o goleiro. "Maka, eu não sei como dizer isso, mas conversei muito com os nossos advogados e eles chegaram a uma conclusão devido aos últimos acontecimentos e descobertas sobre o processo e investigações. Nós conversamos muito e eles acham que a melhor forma para resolvermos isso é usando o plano B", diz o texto.

O caso Bruno

Eliza desapareceu no dia 4 de junho de 2010 quando teria saído do Rio de Janeiro para Minas Gerais a convite de Bruno. No ano anterior, a estudante paranaense já havia procurado a polícia para dizer que estava grávida do goleiro e que ele a agrediu para que ela tomasse remédios abortivos. Após o nascimento da criança, Eliza acionou a Justiça para pedir o reconhecimento da paternidade de Bruno.

No dia 24 de junho, a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador, localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. Na noite do dia 25 de junho, a polícia foi ao local e recebeu a informação de que o bebê apontado como filho do atleta, então com 4 meses, estava lá. A então mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, negou a presença da criança na propriedade. No entanto, durante depoimento, um dos amigos de Bruno afirmou que havia entregado o menino na casa de uma adolescente no bairro Liberdade, em Ribeirão das Neves, onde foi encontrado.

Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza seguindo denúncias anônimas, em entrevista a uma rádio no dia 6 de julho, um motorista de ônibus disse que seu sobrinho participou do crime e contou em detalhes como Eliza foi assassinada. O menor citado pelo motorista foi apreendido na casa de Bruno no Rio. Ele é primo do goleiro e, em dois depoimentos, admitiu participação no crime. Segundo a polícia, o jovem de 17 anos relatou que a ex-amante de Bruno foi levada do Rio para Minas, mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, conhecido como Bola ou Neném, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.

No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento no crime. Todos negam participação e se recusaram a prestar depoimento à polícia, decidindo falar apenas em juízo.

No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e executor do crime. Além dos oito que foram presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do goleiro, Fernanda Gomes Castro, que também foi indiciada e detida. O Ministério Público concordou com o relatório policial e ofereceu denúncia à Justiça, que aceitou e tornou réus todos os envolvidos. O jovem de 17 anos, embora tenha negado em depoimentos posteriores ter visto a morte de Eliza, foi condenado no dia 9 de agosto pela participação no crime e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.

No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno, Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson também irão a júri popular, mas por sequestro e cárcere privado. Além disso, a juíza decidiu pela revogação da prisão preventiva dos quatro. Flávio, que já havia sido libertado após ser excluído do pedido de MP para levar os réus a júri popular, foi absolvido. Além disso, nenhum deles responderá pelo crime de corrupção de menores.