As obras para construção do Bairro Carioca, em Triagem, na Zona Norte do Rio, considerado uma das mais ousadas intervenções do Programa "Minha casa, Minha Vida" na cidade têm apenas 20% das unidades habitacionais já prontas para morar. Construído pela Prefeitura com recursos do governo federal, o conjunto residencial foi inaugurado pelo prefeito Eduardo Paes, acompanhado do governador Sérgio Cabral e da presidente Dilma Rousseff. Das 2.240 unidades habitacionais do conjunto, apenas 460 já estão prontas - o que equivale a cerca de 20% do empreendimento. Os outros 1.780 apartamentos devem ser entregues no fim deste ano, segundo estimativa do secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar.
Em seu discurso, Dilma exaltou o prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição, transformando o evento num palanque eleitoral um dia antes da data oficial permitida para o início da campanha. O prefeito, por sua vez, não discursou, depois de ter sido advertido, em ofício, pelo Ministério Público Eleitoral na última quinta-feira (5).
"Cabral e Eduardo Paes mudaram a forma de fazer política no estado do Rio de Janeiro. E quem ganha com isso é o povo carioca e fluminense. Tenho muito orgulho desta cidade", disse, em tom de elogio ao candidato à reeleição. “O Brasil mudará quando todos os seus habitantes tiverem acesso a melhores condições de vida. A casa é um lugar especial, é onde você cria seus filhos e recebe seus amigos. Por isso, dou os parabéns aos beneficiários do Minha Casa, Minha Vida por terem o sonho da casa própria realizado e por contarem com um prefeito como o Paes”, disse Dilma.
Enquanto Paes seguiu calado, Cabral emendou, fazendo uma crítica velada aos antigos governantes do estado e do município do Rio de Janeiro, ex-governador Anthony Garotinho e ex-prefeito Cesar Maia.
"A atual Prefeitura assumiu o terreno degradado da Light e enxergou a possibilidade de recuperar a área. A Prefeitura foi quem agiu neste programa do querido e amado presidente Lula. Esta obra é de uma grandiosidade incrível. Não apenas pela entrega das chaves destes apartamentos, mas também por toda a infraestrutura para a população. E o mérito é da Prefeitura, com a ajuda do governo federal", exaltou o peemedebista, padrinho político do prefeito.
Os empreendimentos Bairro Carioca I e III, inaugurados nesta sexta, tiveram aporte de R$ 23,8 milhões. Cada uma das unidades possui de 41 a 47metros quadrados e está avaliada em R$ 51.551,55. Os moradores selecionados para receber as chaves são oriundos de diversas localidades áreas de risco de comunidades do município, como as do Borel (Tijuca), Turano (Rio Comprido), Mandela (Complexo de Manguinhos), Palmirinha (Guadalupe) e Rocinha (São Conrado). Alguns ficaram desabrigados depois dos deslizamentos de abril de 2010, enquanto outros estão sendo reassentados porque suas antigas residências deram lugar para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento.
Desabrigada desde abril de 2010, a dona de casa Patrícia de Jesus, antiga moradora da favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio, comemorou a nova moradia.
"Fico preocupada com a adaptação da minha família porque passei a vida toda vivendo na Rocinha, que é Zona Sul. Não estou habituada à Zona Norte, mas aceitei vir para cá porque não aguentava mais morar de aluguel. O governo paga apenas R$ 400 de aluguel social, mas não é possível encontrar nada neste valor. Os alugueis são todos acima de R$ 500", ponderou Patrícia.
A monitora de ônibus Flávia Corrêa, oriunda da mesma comunidade, preocupa-se com o fato da Prefeitura ainda não ter atendido todos os que vivem em área de risco e precisam de uma nova moradia.
"O conjunto é muito grande, mas tem que ter mais como estes para atender todo mundo que vive em área de risco ou que ficou desabrigado em 2010. Tenho muitos amigos lá da Rocinha que recebem um aluguel social que não dá para pagar o aluguel de uma casa e que também precisam de um teto", queixou-se a nova moradora do Bairro Carioca I.