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Pesquisa mostra que Brasil tem mais ex-fumantes do que fumantes

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Marcelo Gigliotti, Jornal do Brasil

RIO - Que fumar faz mal à saúde, todo mundo sabe. Até mesmo os fumantes: 93% dos que têm este hábito sabem que o cigarro pode causar a doenças graves. E mais da metade (52,1%) tem intenção de parar de fumar. Esta conscientização já está mostrando sinais bastante positivos na luta contra o tabagismo. Hoje, no Brasil há mais ex-fumantes do que fumantes: 26 milhões contra 24,6 milhões, respectivamente.

Estes dados constam da Pesquisa Especial de Tabagismo (Petab) feita em 2008 e divulgada sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os dados apresentados pelo IBGE são muito significativos e se devem a uma série de fatores desde a proibição à propaganda à restrição ao fumo em locais fechados, passando até mesmo pelo esforço da imprensa em alertar contra os males do tabagismo. Os alertas nos maços de cigarro também são fundamentais diz Tânia Cavalcante, coordenadora do Programa Nacional de Controle de Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Ministério da Saúde.

Segundo a especialista do Inca, se não houvesse a conscientização, o Brasil poderia não estar apresentado a queda no número de fumantes.

Em 1989, a mesma pesquisa, mostrou que 33% da população acima de 15 anos fumava. Agora, este percentual caiu para 17,5%. Se o percentual de 1989 estivesse inalterado, teríamos hoje mais de 40 milhões de fumantes comenta Tânia Cavalcante, do Inca.

A pesquisa do IBGE traz um perfil dos (ainda) fumantes. Dentre os destaques: os homens fumam mais do que as mulheres; pessoas com menor escolaridade, com menor rendimento e indivíduos entre 45 e 65 anos também fumam mais.

Atualmente, a população mais jovem, o grande alvo da indústria do cigarro, está mais consciente e fumando menos comenta Tânia Cavalcante, do Inca.

Este fenômeno é muito importante, no entender da especialista do Inca, uma vez que a maioria das pessoas começa a fumar entre 17 e 19 anos de idade.

Apesar do grande número de pessoas que abandonou o vício no país, chegar ao status de ex-fumante não é tarefa tão simples. Tânia Cavalcante diz que, embora existam medicamentos e terapias para parar de fumar, o mais importante é o que ela chama de mudança cognitiva-comportamental.

Como parar

Segundo ela, o fumante precisa fazer uma reflexão para saber quais situações o levam a acender o cigarro. Muitas vezes, diz a especialista, o cigarro é acendido no piloto-automático .

Se a pessoa fuma quando toma um cafezinho, pode passar a beber chá exemplifica.

O uso de medicamentos, desde os mais simples, como repositores de nicotina (adesivos ou pastilhas), aos mais modernos, como drogas como a bupropiona e a vareliclina que inibem o desejo de consumir nicotina, são coadjuvantes no processo. Mas têm que ser recomendados por um médico, que devem acompanhar a evolução do processo.

O medicamento pode ajudar, mas a mudança de comportamento, eliminando hábitos associados ao vício, é mais eficaz diz.

E parar de fumar não significa que acabou o problema. Segundo Tânia, a síndrome de abstinência dura entre três e quatro semanas. Após este período, a vontade vai diminuindo. Mas não cessa:

Se a pessoa parou e acha que pode fumar só um cigarrinho, todo o esforço pode se perder.

A recaída é muito grande: 55% dos ex-fumantes voltam ao cigarro depois de um ano.

Sinais de fumaça

>> Frequência

Dos 24,6 milhões de fumantes, 21,5 milhões (87,4%) fumam todos os dias

>> Quantidade

A maior parcela dos fumantes diários (33,9%) fuma entre 15 e 24 cigarros por dia

>> Escolaridade

Entre as pessoas sem instrução ou com menos de um ano de estudo, a proporção dos que começaram a fumar antes dos 15 anos de idade é de 40,8%

>> Ex-fumantes

Entre os que pararam de fumar, predominam aqueles que deixaram o hábito há dez ou mais anos (57,3%)

>> No bolso

Fumantes gastam R$ 78,43 por mês, em média, com cigarros

Mostra exibe anúncios antigos que enganavam consumidores

Muitas baforadas foram dadas não só pelos brasileiros, mas por boa parte da humanidade, até se chegar ao nível de conscientização dos males do cigarro que existe atualmente. Na verdade, o que existia era um total desconhecimento dos riscos de se fumar. Assim, indústrias de tabaco aproveitavam para usar e abusar da publicidade para vender seus produtos. Uma exposição que será inaugurada sábado no Rio de Janeiro mostra bem estas artimanhas.

A mostra Propaganda de cigarro Como a indústria do fumo enganou as pessoas traz 63 painéis que reproduzem anúncios de cigarro veiculados nos Estados Unidos entres os anos 1920 e 1950. Aos olhos de uma pessoa do século 21, estes anúncios são um disparate. Eles traziam até mesmo médicos recomendando determinada marca. Uma das peças mostra um bebê estimulando a mãe a fumar. Até mesmo Papai Noel aparece com um cigarro aceso à mão.

Nesta exposição se pode ver a que ponto a indústria chegou para fisgar consumidores. Hoje, a sociedade não permite mais isso diz Bob Vieira da Costa, sócio da (por ironia) agência de publicidade NovaS/B, que viu a mostra em Nova York e a trouxe para o Brasil.

As imagens selecionadas e organizadas pelos médicos Robert K. Jackler e Robert N. Proctor, professores da Universidade de Stanford (EUA), fazem parte do acervo de domínio público mantido no Smithsonian Institution (Washington). Jackler iniciou a compilação das peças quando a mãe morreu devido a um câncer de pulmão, após fumar por toda a vida.

Naquela época, a indústria produzia e financiava pesquisas pseudocientíficas para persuadir pessoas a fumar.: Mais médicos fumam Camel do que qualquer outro cigarro ; Dê férias para a sua garganta, fume um cigarro refrescante ; A proteção para a sua garganta contra irritação e tosse ; 19.293 dentistas recomendam. Fume Viceroy! Nunca mancharão seus dentes!

Apesar de hoje haver um nível de conscientização bem grande, os jovens continuam sendo o alvo da indústria do tabaco e sua estratégias. Os maços, por exemplo, são verdadeiras peças de design. Por isso, é sempre bom chamar atenção para estas armadilhas diz Bob Costa.

A mostra, que tem o apoio do Inca, fica em cartaz até 17 de janeiro no espaço Caixa Cultural Rio de Janeiro, na Avenida Almirante Barroso, 25, no Centro do Rio, de terça a sábado, das 10h às 22h, e domingos, de 10h às 21h .

No Brasil, propagandas de cigarro são proibidas desde 2002, assim como eventos relacionados a marcas de tabaco. No mesmo ano, os maços de cigarro passaram a trazer no verso das embalagens imagens impactantes sobre os efeitos do fumo. Segundo o IBGE, 65% dos fumantes se mostram estimulados a parar de fumar graças a estes alertas.

Proibição do fumo em locais fechados ajuda na redução

Caio de Menezes

Desde o último dia 18, no Rio de Janeiro, estabelecimentos comerciais foram obrigados a se enquadrar em regras mais duras com o objetivo de restringir o fumo no Estado. Nesta data começou a valer a nova Lei Antifumo, que inclui, entre outras restrições, a proibição de fumódromos em ambientes de uso coletivo, sejam eles públicos ou privados, abolindo desta forma varandas para fumantes e até áreas que estejam sob marquises ou toldos.

O fumo só será permitido em espaços totalmente isolados dos ambientes internos por meio de uma divisória ou parede, impedindo completamente o fluxo da fumaça, do ambiente externo para o interno.

A nova legislação prevê multas que podem variar de R$ 3 mil a R$ 30 mil, dependendo da infração. O governo estadual promete uma rígida fiscalização para punir quem desrespeitar a lei e já vem realizando ações educativas em bares e restaurantes. Com o nome de operação Rio Sem Fumo, a iniciativa irá fiscalizar o cumprimento da Lei Antifumo, e promete ser tão rígida quanto a Lei Seca.

Responsável pelo grupo de fiscalização da Vigilância Sanitária do estado, a superintendente do órgão, Marília Monteiro Alvim, explicou como é conduzido o trabalho.

Diariamente teremos equipes, com um total de cem pessoas, fazendo a fiscalização pelas ruas. É um trabalho feito para complementar a ação dos municípios disse ela, que afirmou que 99% dos estabelecimentos estão aderindo à campanha, e fixando cartazes informando sobre a proibição ao fumo.

A superintendente explicou um dos objetivos da Lei:

Autuamos os estabelecimentos e não os fumantes, queremos proteger quem não fuma mas é obrigado a conviver com a fumaça do cigarro, caso dos garçons.

Medo de prejuízo

Apesar de ser apoiada pela maioria da população, a Lei Antifumo preocupa quem vive do setor de bares, restaurantes e casas noturnas. Segundo Paulo Cabral, gerente da danceteria Far Up, na Cobal do Humaitá, que não fuma, a lei pode impactar de maneira desagradável o estabelecimento que administra.

Os frequentadores da night, em sua maioria, são fumantes. Faz parte de sua diversão fumar enquanto bebe. Infelizmente, essa Lei Antifumo, vai de encontro a esse hábito, o que pode acarretar prejuízo para os estabelecimentos - analisa.

De acordo com o gerente, a diminuição do movimento de clientes resultará em demissões.

Como calculamos em 30% o prejuízo que devemos ter, já estudamos adotar algumas medidas e, infelizmente, entre elas está a redução de pessoal.