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PARIS - Aproveitando-se do clima favorável criado na visita do presidente Nicolas Sarkozy ao Brasil em dezembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou, por meio do ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, uma carta ao líder francês em que propõe uma aliança para conduzir a reforma das instituições internacionais, como o G8 e a ONU. Amorim chegou nesta manhã a Paris e se encontrou com Sarkozy na metade da tarde, no Palácio do Eliseu.
- O presidente Lula propõe um reforço da parceria estratégica entre Brasil e França, não só no sentido de aumentar as relações bilaterais, mas também no sentido de estender a parceria aos grandes temas internacionais e liderar, ou conduzir, um movimento para a reforma das instituições internacionais, contribuir para a criação de uma nova ordem internacional - afirmou Amorim.
A carta conteria uma estratégia de ação dos dois países, com vias a apresentar novas idéias em conjunto no próximo encontro do G-20, em Londres, em abril.
- Brasil e França são dois países que têm um forte interesse em uma ordem multipolar, numa ordem em que não haja um único ator dominante na realidade internacional. Têm visões muito semelhantes sobre a democracia, sobre a importância no multilateralismo nas organizações internacionais, a necessidade de reforma das instituições financeiras e políticas e da participação dos países em desenvolvimento em certos mecanismos. Portanto, têm tudo para trabalhar juntos - disse o ministro brasileiro durante uma coletiva de imprensa realizada na embaixada do Brasil, logo após a reunião com o presidente francês.
Em diversas ocasiões, tanto os governantes brasileiros quanto os franceses têm expressado o descontentamento sobre o monopólio dos Estados Unidos em liderar as principais organizações internacionais. Enquanto a França gostaria de ganhar mais espaço em termos de poder, o Brasil almeja conquistar uma cadeira definitiva entre os países mais importantes do mundo.
- O presidente Sarkozy reagiu de maneira muito positiva às idéias que o presidente Lula colocou lá. Disse que não só gostou muito das idéias, mas que responderá logo para o presidente Lula para ver como nós podemos operacionalizar o que está ali sugerido - disse Amorim, sem dar mais detalhes sobre o plano descrito na carta, que seria, segundo ele, uma evolução das conversas iniciadas pelos dois chefes de Estado no Rio de Janeiro.
- Agora, é um esquema que foi proposto para dar corpo a essa possível associação com vistas a uma mudança na ordem internacional. Um esquema que envolve o lançamento, em uma conferência de chefes de Estado - sugere o presidente Lula, que seja em Paris - e que possa ser objeto de uma conclusão alguns meses depois. Não posso dar mais detalhes sobre isso porque ainda vamos aguardar a resposta do presidente Sarkozy - precisou o chanceler.
Amorim desconversou quando perguntado se hoje a França seria o principal parceira estratégica do Brasil, mas admitiu que a relação entre os dois países está muito próxima.
- A França é um dos grandes parceiros internacionais do Brasil, certamente um parceiro privilegiado. Não quero ser excludente. Neste processo de reforma das instituições, talvez a França e o Brasil constituam uma aliança especial - afirmou Amorim, que no entanto não descartou a inclusão de outras lideranças nesta parceria.
- A idéia está surgindo entre Brasil e França, mas naturalmente outros países serão convidados e alguns serão convidados de primeira hora a dar as suas idéias a respeito também.
O ministro considera que o momento econômico atual é o ideal para repensar a estrutura das organizações e lembrou que, no passado, foram momentos históricos que determinaram a renovação das instituições.
- As grandes mudanças só ocorrem em momentos de crises. Foi preciso a Primeira Guerra Mundial para a criação da Liga das Nações. Foi preciso a Segunda Guerra Mundial para se criar as Nações Unidas (ONU). Graças a Deus, esperemos, não será preciso uma terceira Guerra Mundial, mas há uma crise profunda que exige uma mudança nas estruturas decisórias do mundo.
Ele defendeu a inclusão do Brasil na esfera das discussões relevantes em nível mundial e disse que os países em desenvolvimento não podem mais ser excluídos das mesas de negociações.
- Acho que para se discutir temas centrais como energia ou mudanças de clima, não se pode discutir só no G8. Tem de se discutir em uma esfera mais ampla.
Por enquanto, afirmou Amorim, o possível bloqueio da idéia por parte de países como os Estados Unidos parece não incomodar o governo brasileiro.
- O governo Obama pode estar sintonizado com essa idéia, no futuro. Isso não impede que Brasil e França saiam na frente, até porque a minha impressão é de que o governo Obama, num curto prazo, está muito voltado para os problemas internos, o que é natural. Nós queremos que eles consigam resolver a crise deles porque isso vai ajudar a todos.