Portal Terra
SÃO PAULO - Cartas apreendidas em uma penitenciária do interior de São Paulo mostram que, pela primeira vez, o PCC passou a punir seus padrinhos, homens de confiança do primeiro escalão que recrutam novos integrantes para a facção. Até então, os padrinhos não sofriam qualquer tipo de represália, caso seus "afilhados" descumprissem as regras da facção.
Agora, a cada descumprimento, o padrinho também será punido. Além de filtrar os novos "irmãos", a medida teria objetivo de passar mais responsabilidade aos padrinhos, que pela primeira vez poderão ser punidos e até expulsos do "partido". Até então, apenas os militantes eram castigados.
As novas regras estabelecem que o padrinho será expulso quando seu afilhado for excluído por dívidas com o PCC. O padrinho ainda poderá ser suspenso por 90 dias ou ficar sem batizar por um ano, dependendo da gravidade do "vacilo" do seu afilhado.
De acordo com um diretor da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) ouvido pelo Terra, a mudança das regras teria sido feita porque muitos "juízes" dos tribunais paralelos PCC estavam sendo condenados sem terem relação direta com os crimes. Esse "juízes" são os que julgam réus levados por militantes do PCC num tribunal paralelo, que julga, condena e pune, na maioria das vezes com a morte, os acusados.
Um dos casos seria o de três líderes do PCC que estavam presos, mas vão a julgamento por homicídio, por decretarem, de dentro da prisão, a morte de um trabalhador rural de São Carlos num dos tribunais paralelos flagrados pelas autoridades. O tribunal foi feito no Natal e condenou à morte o agricultor Everardo Roque de Lima, 34 anos, por supostamente ter estuprado uma mulher.
Novas punições
O PCC estabeleceu mais rigor em novas punições na tentativa de apertar ainda mais o controle sobre seus "irmãos" e padrinhos. As novas estabelecem nos casos de estupro, traição, delação e roubo do comando, o militante pagar com a morte e o "padrinho", com a exclusão. A mesma regra vale para "irmãos" que praticarem extorsão ou matarem inocente com objetivo de obter vantagem ou lucro.
Para os casos de agressão, mentira, calúnia, falta de responsabilidade, assédio às mulheres de "irmãos", homossexualismo masculino e feminino, correr da cadeia, dívida e desrespeito, o "irmão" será punido com a exclusão e o padrinho, com um período de 90 dias a um ano sem batizar (em caso de reincidência).
- O partido agora só está recebendo 'irmãos' que querem mesmo seguir a caminhada com responsabilidade e não vai correr da luta - resumiu J.R.A., 26 anos, que atua numa cidade da região noroeste do Estado.