Milicianos pagos pela Prefeitura do Rio de Janeiro deixam grupos onde organizavam "plantões" em hospitais de toda a cidade para evitar reportagens com críticas ao atendimento.
O jornal RJ2, da TV Globo, divulgou nessa segunda-feira (31) uma investigação sobre um esquema envolvendo "funcionários públicos" para impedir denúncias na área da Saúde. Uma verdadeira operação de milícias.
O grupo, organizado no WhatsApp, reúne "servidores" com holerites da Prefeitura do Rio alocados em diversas unidades de saúde do município, com escalas diárias, atrapalhando e intimidando cidadãos, cerceando jornalistas, para que não critiquem o atendimento nos hospitais.
"O prefeito, ele acompanha no grupo os relatórios e tem vezes que ele escreve lá: 'Parabéns! Isso aí!'", contou ao programa um dos participantes dos grupos, nos quais o número do prefeito Crivella faz parte.
O grupo se organiza de forma que cada unidade de saúde conte com duplas atentas a entrevistas de repórteres, iniciando agressões verbais para interromper matérias televisivas, assim como constranger os entrevistados e gritar "Globo lixo", "Bolsonaro", "Bolsomito". Querem com isso inviabilizar a veiculação das matérias, mas não contavam que o RJTV fizesse deles as personagens principais de um novo enredo.
Porém, a turma, que leva o nome de "Guardiões do Crivella", administrando as ações dos "funcionários públicos", passa por uma grande perda de seus membros após a divulgação da reportagem do RJ2.
O grupo é chefiado pelo pastor da Igreja Universal Marcos Paulo de Oliveira Luciano, conhecido como ML, e conta com diversas fotos do prefeito da cidade. O dito pastor-funcionário público ocupa a função de assessor especial do gabinete de Crivella, e ganha mais de R$ 10 mil reais por mês de salário, fora as regalias.
Uma fonte citada pelo RJTV afirma: "Nós já temos essa missão há mais de oito meses. Antes, já estava funcionando, mas quando entrou a Covid-19, em março, ficamos todos os dias" [nas portas dos hospitais]. "Existe plantão nas unidades para poder cercear a imprensa."
Em resposta à divulgação da reportagem, a Prefeitura do Rio de Janeiro não negou a existência da milícia paga com dinheiro público, mas afirmou que "reforçou o atendimento em unidades de saúde municipais no sentido de melhor informar a população e evitar riscos à saúde pública" [...] Uma informação falsa pode levar pessoas necessitadas a não buscarem o tratamento onde ele é oferecido, causando riscos à saúde".
Nas redes sociais, o ex-prefeito Eduardo Paes, maior opositor político de Marcello Crivella, chamou o bispo-prefeito de "bandido". (Com informações da agência Sputnik Brasil)
O assunto ganhou o topo dos mais comentados da internet.
Esse sujeito se supera! Vergonha alheia! Coisa de bandido! https://t.co/CVce0acbL2
— Eduardo Paes (@eduardopaes_) September 1, 2020