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Reunião de três ministros pode ter distraído Moraes e facilitado a saída de Weintraub do Brasil

Andre Sousa/MEC -
Abraham Weintraub
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Antes de conseguir se submeter ao escrutínio dos oito países representados pelo Brasil na Diretoria executiva do Banco Mundial, para a qual foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, como prêmio de consolação após sua saída do Ministério da Educação – se é que isso ocorrerá, tal a rejeição a seu nome – Abraham Weintraub e seu protetor devem explicações sobre sua saída espetaculosa do Brasil rumo a Miami, onde entrou com passaporte de status de ministro de Estado da República Federativa do Brasil.

As trapalhadas quanto à data efetiva de demissão do ex-ministro, inicialmente exonerado, conforme a edição extra do Diário Oficial da União de sábado, 20 de junho, no mesmo dia, quando já desembarcara em Miami, e com a retificação na 3ª feira, 23 de junho, quando o DOU informa que a demissão fora efetivada dia 19, 6ª feira, mostram, mais uma vez que está faltando organização tanto na Casa Civil quanto na Secretaria de Governo.

Há dois meses, trapalhada de maior gravidade foi cometida na “exoneração, a pedido”, do ex-diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, com a assinatura do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro e do presidente da República Jair Messias Bolsonaro. Só que Moro não assinara a exoneração, nem ela fora “a pedido” de Valeixo. A portaria foi retificada, mas não evitou a saída de Moro do governo. E o que se viu depois na PF, confirmava a versão de Moro para a insistência presidencial de interfeir na Polícia Federal para tentar proteger a família e os amigos do presidente.

Mas a questão aqui é bem mais grave, pois envolve as relações do Brasil com um país estrangeiro. Brasileiros comuns estão proibidos de entrar nos Estados Unidos. Salvo portadores de status especiais. Ao desembarcar “ainda ministro de Estado da Educação” na manhã de sábado, 20 de junho, no Aeroporto de Miami, o cidadão Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub mostrou seu passaporte especial e entrou sem restrições. Só deixaria de ser ministro, na parte de sábado, segundo o DOU.

Entretanto, diante das dúvidas levantadas no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro explicou na 3ª feira, 23 de junho, que o ex-assessor já deixara de ser ministro na própria 5ª feira, quando se despediu do presidente e gravou um vídeo com mensagem sobre sua saída, culminando com um pedido de “abracinho” a um constrangido Bolsonaro. O erro foi da edição do DOU.

Com qualquer das três versões, cabem muitas explicações:

1 – Se já não era ministro, por que usou o passaporte com status de ministro? Ludibriou a imigração dos Estados Unidos? Custeou a própria passagem?

2 - Se ainda era ministro e entrou legalmente nos EUA, sua viagem foi custeada pelo Estado brasileiro? Qual o motivo oficial do empenho de verbas?

3 – Se a sede do Banco Mundial é em Washington e a sua hipotética aprovação, está na berlinda após as cartas enviadas por altas personalidades brasileiras, como o ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, Rubens Ricúpero, alertando as embaixadas dos oitos países que têm de aprovar o seu nome sobre seu comportamento racista, contra negros, chineses e povos indígenas (que são a base das populações de Colômbia, República Dominicana, Equador, Haiti, Panamá, Filipinas - vice-diretor do grupo -, Suriname e Trinidad e Tobago), por que seguiu para Miami? E o que fará lá até o seu nome ser submetido formalmente à votação?

Vale lembrar que a Associação dos Funcionários do Bird leu a carta e está fazendo campanha aberta contra sua indicação. Se precisar de combustível do Posto Ipiranga, Paulo Guedes, para emplacar no cargo (bastariam os votos do Brasil e mais um país médio para isso) pode ficar a pé...

Se conseguir superar todos os obstáculos para exercer o mandato tampão até 31 de outubro deste ano (e embolsar R$ 116 mil mensais, quase quatro vezes o salário básico de ministro - R$ 31 mil), Weintraub devia aproveitar o ócio em Miami para estudar a fundo os regulamentos do Banco Mundial e, particularmente seu Código de Ética. Reformulado em 2010, suas 19 páginas pregam tudo o que o ex-ministro despreza, como a delicadeza no trato com os demais seres humanos. Haveria enorme risco de não ter o mandato renovado.

Evasão de pessoa?

Mas o que precisa ser esclarecido neste caso é o real objetivo da visita surpresa de três ministros do governo – da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, e da Advocacia Geral da União, José Levi – 6ª feira, 19 de junho, à residência de São Paulo do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

Os três foram convocados na manhã de 6ª ao Palácio do Planalto pelo presidente Jair Bolsonaro que os despachou a São Paulo, para uma reunião de “armistício” com o ministro do STF. Moraes é o encarregado do inquérito das “fake news” e investigações sobre a atuação das milícias, blogueiros e apoiadores do presidente, com suporte financeiro de políticos e empresários nos ataques ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal.

Em função da visita, acertada pela manhã, o ministro do STF ficou o dia inteiro praticamente privado de tomar qualquer providência em relação aos inquéritos que conduz, um dos quais incrimina Weintraub.

A saída de Weintraub não pode ser caraterizada como fuga, pois não havia mandado contra ele. Como só é bem cotado pelo grupo mais radical dos bolsonaristas, também não pode ser taxada como evasão de divisas. Quando muito, uma evasão de pessoa.

Então, o que foi fazer em São Paulo o trio ministerial? Apenas distrair o ministro do Supremo, para dificustar a tomada de qualquer providência contra a saída de Weintraub. Se for isso, como se diz no Nordeste, Bolsonaro facilitou uma fuga em diversas transgressões.

Macaque in the trees
Abraham Weintraub (Foto: Andre Sousa/MEC)