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O capitão sobe a rampa

Com formação militar, Jair Bolsonaro realiza um sonho e chega ao mais alto cargo da República

Arquivo Pessoal -
Em 1973, Jair Bolsonaro cursou a Escola Preparatória de Cadetes do Exército e seguiu carreira militar até 1988
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Foi em um ano atribulado na política do país que nasceu Jair Messias Bolsonaro (21 de março de 1955). As eleições presidenciais de 55 evidenciaram os atritos e conchavos entre os partidos políticos, culminando na vitória eleitoral de Juscelino Kubistchek. No ano seguinte à posse, iniciou-se no Rio de Janeiro um movimento de militares contrários ao presidente eleito, ocorrendo novamente em 1959. O desfecho culminou na repressão realizada pelas forças legalistas (pró-Juscelino) e na anistia de todos os envolvidos.

Foi também em 1955 que a cédula do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começou a ser usada. O objetivo da Justiça Eleitoral era tornar o processo sigiloso, facilitando a apuração dos resultados e a contribuição no combate ao abuso do poder econômico. Eleito pelo voto eletrônico, Bolsonaro, durante a sua campanha para a Presidência, defendeu o retorno do voto impresso, sob o argumento de prevenção de fraudes nas urnas.

Nascido em Glicério (SP) – cerca de 440 km da capital – e registrado em Campinas, o filho de Perci Geraldo Bolsonaro e de Olinda Bonturi Bolsonaro tem ascendência italiana dos dois lados. De famílias originárias da tranquila Anguillara Veneta, no próspero nordeste da Itália, os parentes distantes de Jair Bolsonaro não esconderam o espanto com a candidatura de um descendente daqueles que fugiram da pobreza há mais de um século.

Orgulhoso de seu currículo militar, Bolsonaro cursou a Escola Preparatória de Cadetes do Exército e em seguida a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), formando-se em 1977. Militar de reserva, desde que serviu ao Exército brasileiro de 1971 a 1988, onde chegou a tornar-se capitão entre 1979 a 1981, sua carreira teve sequência com o ingresso na Brigada de Infantaria Paraquedista, no Rio.

Em 1986, ganhou projeção nacional ao escrever o artigo intitulado “O salário está baixo”, publicado na seção Ponto de Vista da revista Veja. No texto, Bolsonaro uniu o desligamento de dezenas de cadetes da Aman aos baixos salários pagos à categoria. Tamanha foi a polêmica gerada pelo artigo, que Bolsonaro foi preso por infringir o regulamento disciplinar do Exército.

Pouco tempo depois, a revista Veja trouxe uma reportagem com apresentação de um plano do então capitão para explodir bombas em unidades da Vila Militar e quartéis. O plano atribuído a Bolsonaro e ao capitão Fábio Passos da Silva provocou reações imediatas do ministro do Exército. Convocados a se explicar, os acusados se eximiram de qualquer culpa. Em junho de 1988, levados a julgamento, o tribunal decidiu pelo não afastamento dos dois capitães, que foram considerados “vítimas de um processo viciado”.

A exposição na mídia contribuiu para que Bolsonaro fosse eleito vereador do Rio em 1988, pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Em outubro de 1990, ao ser eleito deputado federal, renunciou ao mandato de vereador e foi para Brasília. Na capital federal, no início da década de 1990, seu foco foi atender aos interesses de militares, sua primeira base eleitoral.

Em abril de 1993, foi um dos fundadores do Partido Progressista Reformador (PPR), nascido da fusão do PDC com o Partido Democrático Social (PDS). Não ficou longe dos holofotes por muito tempo. No mesmo ano voltou a chamar a atenção da mídia quando defendeu o retorno do regime de exceção e o fechamento temporário do Congresso Nacional. Foi reeleito em 1994 e, no ano seguinte, filiou-se ao Partido Progressista Brasileiro (PPB), atual PP – do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf, e uma das legendas mais citadas na Operação Lava Jato. Em 1998, no terceiro mandato de deputado, se candidatou para presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, mas não logrou êxito. Obrigado a enfrentar a reação de diversos setores da sociedade, o deputado escreveu novo artigo na imprensa, defendendo a pena de morte, prisão perpétua, e a redução da maioridade penal.

Com o discurso conservador focado na defesa da “família tradicional”, Bolsonaro foi casado três vezes e, dos cinco filhos, três são políticos como o pai. Entre 1993 e 2001 foi casado com Rogéria Nantes, vereadora no Rio. Dessa união nasceram Carlos (vereador), Flávio (senador eleito) e Eduardo (deputado federal reeleito). Foi também casado com Ana Cristina Vale, com quem teve um filho. Em 2013, casou-se com a atual esposa, Michelle, com quem teve uma filha.

Nas eleições de 2002, foi eleito pela quarta vez deputado federal do Rio e, uma vez empossado, mudou novamente de partido (PTB). Depois, passou pelo PFL e voltou ao PP. Se reelegeu em 2006 e 2010, sempre com um número crescente de votos. Na última eleição de 2014, foi o candidato a deputado federal mais votado no Rio, com 464 mil.

Em todo o tempo em que esteve no Congresso, criou 171 projetos, dos quais apenas dois viraram lei: uma proposta que estendeu o benefício de isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para bens de informática e outro que autorizou o uso da chamada “pílula do câncer” – cuja eficácia nunca foi comprovada. Em geral, seus projetos tratavam da remuneração e benefícios para as Forças Armadas, liberalização das regras para uso de armas e do endurecimento de penas para crimes, a menos quando são cometidos por agentes de segurança ou para defender o patrimônio privado.

Após 28 anos na política, Bolsonaro conseguiu firmar uma imagem de outsider para disputar a Presidência pelo PSL. Declarou patrimônio de R$ 2,3 milhões no TSE e, em campanha, focou na defesa de valores morais e de livre iniciativa. Em plano de governo, exaltou o liberalismo econômico, combate à corrupção e corte de gastos públicos.