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Tempo de fatalidades

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Cidades que o descaso do serviço público vem transformando em mais líquidas que certas, mergulhadas em temporais com alto poder destrutivo, Rio e S.Paulo tornaram-se referência para se avaliar o que elas e outros grandes centros urbanos do país passam a sofrer nessas épocas do ano, que geralmente se situam entre dezembro e abril. Importantes concentrações urbanas, nelas, quase sem exceções, não se realizam obras e serviços indispensáveis para impedir que as chuvas causem grandes estragos; a começar pelo maior deles, a tragédia das vidas humanas que se perdem. Observe-se o noticiário: em todas as regiões brasileiras grandes prejuízos por causa das águas que não escoam.

No Rio, para não ser preciso sair de casa, cita-se que são antigos os planos de contenção de encostas, todos referentes a lugares de maior risco, cuja execução independe de investimentos monstruosos. E, mesmo que assim fosse, poderiam ser realizados paulatinamente. Ora, desde os tempos de Pedro Ernesto a prefeitura sabe onde se situam as áreas perigosas e vulneráveis no tempo das águas.

Mas, ainda que fosse possível justificar a negligência ante o custo das obras, há que se considerar que boa parte dos estragos que o Rio enfrenta nas últimas horas é consequência da ausência de serviços comuns, como limpeza de córregos e bocas de lobo. Acumuladas toneladas de detritos, a água não tem como ser canalizada. Os resultados já conhecemos, e com eles muito sofremos. Ora, serviço de limpeza não pode ser razão para as desculpas do prefeito, que continua emprestando ares de perplexidade aos desastres que a população carioca tem enfrentado.

Com as chuvas ou sem elas, temos sido condenados a coisas exóticas nesta cidade: na administração, um “bispo licenciado”, o que constitui singularidade em qualquer organização religiosa. E um prefeito fatalista, sem reconhecer, com humildade, ser ele próprio um acidente fatal.