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O mundo explosivo

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Mal começado o ano, e o cenário internacional não se fez de rogado para mostrar delicados e estreitos caminhos a serem percorridos pelas lideranças, não só entre as políticas, que geralmente acabam se acostumando com as situações mais delicadas; mas, agora, também no campo religioso. O Papa Francisco adotou o enfrentamento como seu mais recente calvário, e lidar, em sua Igreja, com o que vem chamando de "peste da pedofilia" nos conventos e seminários.

Num passo que exigiu rompimento com envelhecido modelo da contemporização, ele acaba de transmitir ao mundo um discurso que extrapola sentimentos e cuidados religiosos e se espalha a toda a sociedade, sem exclusividade para os credos. Os abusos contra crianças são uma violência a se propagar cada vez mais pelo mundo; e Francisco, com coragem, irritando muitos cardeais, parte para essa cruzada inédita.

Tirante o Papa, sem sair da Europa, assiste-se ao renascimento de uma intolerância étnica, que, quando a civilização volta os olhos para algumas décadas atrás, denuncia e de novo renega os horrores do antissemitismo, principalmente na França, onde vive a maior população de judeus da Europa.

O antigo ódio experimentou, nos últimos anos, um recrudescimento da ordem de 70%, fato agravado por recente acusação aos governos da Alemanha e da Bélgica, onde veteranos nazistas são financiados com recursos públicos. Antigos ódios sepultados em lugares diversos saltam de suas valas, preferindo ignorar as tragédias históricas, como se delas nada tivesse sido possível aprender. Nesta semana, causou náuseas à consciência universal ver um cemitério judeu, em França, coberto de suásticas.

No mapa intranquilizador de dificuldades para a convivência entre os povos, uma questão de pontual sensibilidade está protagonizada pela Rússia e Estados Unidos, que voltam a se estranhar sobre limites de defesa; o que não é bom, porque medição de força entre potências maiores sempre afeta o resto do mundo. Para os que temem o futuro, o retorno à guerra fria carregaria vasto potencial de inseguranças.

Afora, como uma preocupação a mais, o fortuito; um inesperado incidente, momentaneamente sem maior importância, mas capaz de levar a graves consequências e temores. É o que lembra um fato ao mesmo tempo antigo e recentíssimo, a disputa de Caxemira entre Índia e Paquistão, vizinhos em tênues fronteiras, ambos figurando entre os nove países a terem armamento atômico. Tudo a contribuir para o risco de um desiderato nacionalista, bastando brevíssimos incidente em pequenas montanhas que os separam.

(Os ambientalistas apregoam que o mundo vai se aquecendo perigosamente, por causa das ofensas ao meio ambiente. Com alguma acuidade, poderiam ampliar suas conclusões, lembrando que as relações entre os governos não fazem por menos, e vão esquentando o mundo).

Para não se dizer que não se falou da América, a este agitado fevereiro ela oferece sombria contribuição, com o agravamento das relações internacionais com a Venezuela. Neste fim de semana, forças simpáticas ou hostis ao presidente Maduro partem para um perigoso confronto, com os pesares de se agravar exatamente no ponto que devia estar preservado: o socorro humanitário à população. Também ali não estamos isentos do desdobramento de algo súbito, não intencional, mas perigoso, sob o clima das tensões agravadas ante a aparente impossibilidade de recuo das partes envolvidas. Surpresas sempre ajudaram a contar a História dos povos.

O mundo parece transformado num barril de pólvora. E o que não falta são estopins.

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editorial | igreja | jb | papa