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Riqueza e miséria no petróleo

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O poder do petróleo, que gera uma energia da qual o mundo não pode prescindir, tem oferecido material interessante para a reflexão dos estudiosos; aqueles dedicados a analisar a influência dessa imensa riqueza sobre a vida e os destinos dos países que a natureza contemplou com incalculáveis reservas. O interesse por esse aspecto, não apenas o econômico do chamado "ouro negro" pretende aprofundar o que representa para os povos que sobre ele estão assentados. Há significativa contradição, porque, salvo raras exclusões, esses países são exatamente os que padecem de problemas que resultam na pobreza, nas guerras ou nas mais graves intranquilidades sociais. A Nigéria, um dos maiores lençóis, com duvidosas eleições marcadas para esta semana, está entre as maiores população abaixo do nível de pobreza tolerável, enquanto países árabes, os mais ricos como potências de petróleo, são exemplo da cruel disparidade: populações em permanentes conflitos, pobres diante de emires bilionários, que, como ditadores africanos, mantêm contas fabulosas nos bancos suíços.

Voltam-se as atenções para a América Latina, onde as ricas plataformas brasileiras que sugam o óleo do mar não ajudaram, tanto como se desejava, a remover os altos índices de pobreza crônica, e nem nos afastaram de figurar entre os povos que pagam combustível mais caro. Mas, nem por isso somos citados entre os piores, como a Venezuela, onde as sondas confirmam invejáveis bilhões de barris a serem produzidos. O que se vê ali?, se não a discrepância da imensa nação a conviver com um dos quadros mais miseráveis do mundo, incluídas certas carências que espantam, como ainda agora se ouve dos relatos de 240 refugiados que, com auxílio de pastorais, procuram instalar-se em Minas. É incontestável que ter petróleo é muito importante, mas não basta tê-lo para que não hajam dificuldades e tragédias. Ele é ótimo, porém não exorciza os demônios.

O castigo dessa espantosa contradição fez-se em cenário privilegiado no país vizinho, ao mesmo tempo muito rico e muito carente. Enterrada no chão e no mar a riqueza imensa; em cima da terra, a fome e a doença, agravadas sem acesso a uma oportuna ajuda humanitária; o governo vê nela, camuflado, o plano de intervenção militar, suspeita com possibilidade de alguma razão, mas não o bastante para impedir ações internacionais de socorro a uma população que está morrendo desassistida, semelhante a outras tragédias inspiradas em ditaduras.

Relegada, por hora, a importância dos poços de petróleo mais ricos do continente, mas com atenção apenas para as agruras de um povo que vê tão próximas as ajudas, sem poder tocá-las para não morrer faminto e doente, o que cabe, como emergência, é superar o impasse que faz estagnar nas rodovias e aeroportos próximos milhares de toneladas de tão solidária carga. O senhor Maduro não esconde sua desconfiança em relação aos propósitos do governo dos Estados Unidos, da mesma forma como suspeita de quase todos os países da comunidade americana, desejosos de vê-lo apeado do poder. Fica como opção ao plano humanitário confiar ao patrocínio das Nações Unidas, com a participação de países isentos, a tarefa de fazer com que os bens doados cheguem ao destinatário que deles precisa.

A situação discrepante entre riqueza e miséria - o bem e o mal conciliados e conviventes - excita os estudiosos, embora estes sempre mantidos nos limites dos filósofos e cientistas sociais. Bom seria se, fazendo uso da mesma realidade que se espalha pelo mundo, os estadistas por ela também se interessassem.