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Prioridades na pobreza

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Problemas, quando são muitos, principalmente se se dão ao luxo de ostentar gravidade, e escassos os recursos para resolvê-los, a eleição de prioridades é o que se impõe. Nada diferente do que ocorre na economia doméstica, onde, sob a imposição dos haveres e deveres, a família é forçada a uma rigorosa escalada de gastos. Os compromissos públicos estão nesse caso, quando se avalia a situação da União e das unidades federativas, ombreadas na queixa comum de que os cofres encontrados pelos novos governantes mergulharam na total indigência; o que se confirma na incapacidade de honrar folhas de servidores, 13º salário engavetado e contratos de serviços congelados. Outra coisa não é o que se vê de Norte a Sul deste país.

Chega-se, portanto, à hora de reescalar prioridades, a começar pelos estados, onde os governadores recém-empossados nem podem ser tentados a se satisfazerem com o pagamento em dia da folha mensal do funcionalismo, que realmente tem de ser remunerado em dia, para que a máquina administrativa não sofra solução de continuidade. Mas isso não basta, porque a população, que não está nos contra-cheques oficiais, precisa ter à disposição obras e atendimentos imprescindíveis. Está neste caso, com tudo para figurar como prioridade entre as prioridades, a manutenção de serviços mínimos no setor de saúde. Não obstante, é um quadro que vem se agravando diariamente, para não se falar nas difíceis intervenções cirúrgicas seletivas.

Se, portanto, muita coisa não é possível fazer, voltemo-nos para a saúde, para que se eliminem, pelo menos, as cenas patéticas de feridos e moribundos dispostos em carreira nos corredores das enfermarias dos hospitais. Coisa que, vista pela televisão, faz lembrar filme mal acabado de terror, onde são montadas filas de espera para a morte. Há outras situações terríveis, denunciadas na maioria dos estados de orçamentos modestos, entre elas o fato de exames corriqueiros ou de média complexidade estarem sendo programados só para o final do trimestre; às vezes nem isso, porque o paciente é condenado a esperar o semestre seguinte. Se não morrer antes.

Se a pobreza das prefeituras generalizou-se, sendo escasso ou quase nenhum o dinheiro para a saúde, e ainda que deixando para depois outros compromissos a cuidar, uma solução emergencial talvez seja a soma dos poucos recursos de cada município em um único projeto de amplitude regional. É possível, e há experiências bem sucedidas; uma delas foi a criação de um consórcio de prefeituras, cujo presidente é eleito entre seus titulares. Chama-se Pé da Serra, como intitulou seu criador, o médico Antônio Jorge Marques. Foi com a soma do pouco disponível em cada município que se tornou possível a aquisição de caros instrumentos e aparelhos, os mesmos que, isoladamente, as prefeituras jamais poderiam ter; e o estado, em clima falimentar, não teria como socorrer a todos.

Sem que se saiba quais os caminhos que o governo fluminense avalia para minorar dificuldades no campo da saúde, valeria lembrar que o projeto mineiro do consórcio incorporou municípios que tem muito de semelhança com o interior do Rio de Janeiro, a começar pela interligação rodoviária, pareidos PIBs, nível populacional com identidades e iguais incidências de enfermidades. Como a realidade fluminense oferece, nesse particular, poucas diferenças, se confrontada com a de Minas, nada impede que se tente a mesma solução. Nem que sirva para testar o velho brocardo garantindo que é com a união que se faz a força.

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editorial | jb