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Recado de Davos

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A reunião de Davos, a partir do dia 22, onde o Brasil promete mostrar disposição de ampliar seus mercados, a começar pela modernização do modelo fiscal, tem, desta vez, um desafio a mais, ao qual serão chamados muitos outros países, diante de uma plateia de quase dois mil investidores e analistas. Pretendem os organizadores uma visão mais atualizada de fenômenos ligados à globalização, deles em grande parte dependente a próxima evolução industrial, para consagrar o apogeu tecnológico. O que importa reconhecer que estamos em véspera de maiores exigências quanto aos conhecimentos aplicados à produção. Abrem-se, consequentemente, novas linhas de concorrência, eliminando-se os que não estiverem preparados.

A ideia que facilmente se depreende é que as futuras oportunidades de vendas, de bons negócios entre os países, vão se tornando, cada vez mais, dependentes da capacidade de os mercados oferecerem bons produtos, com rapidez e qualidade; e, tanto quanto possível, a preços competitivos.

O Brasil é chamado a agilitar seu ingresso num clube cada vez mais fechado, frente a exigências e aprimoramentos. Se os modernos recursos tecnológicos disponíveis para a produção industrial permanecem restritos a poucos, certamente serão mantidas as inoportunidades aos centros produtores ainda longe de alcançar esse padrão.

Comprando ou vendendo para centena e meia de países, o nosso passaria a correr o perigo de ver encurtado seu mercado, caso desconsidere a necessidade de se modernizar. Talvez os primeiros sinais dessa nova realidade da ditadura globalizante o presidente Bolsonaro possa sentir em Davos, onde, como reafirmou ontem, pretende deixar mensagem de maior agressividade nesse campo, mas sabendo que, afora a remoção de entulhos fiscais e burocráticos, de que tanto se queixam importadores e exportadores, carecemos de avançar mais no campo da tecnologia. Se não nos preocuparmos com isso, estaremos abrindo espaços para os mercados que têm cuidado de revolucionar seus padrões produtivos.

Um primeiro passo a exigir atenções e investimentos é estimular pesquisas e projetos de extensão nas instituições de ensino superior, setores que têm figurado entre os primeiros sacrificados no painel das contenções orçamentárias e nos contingenciamentos. Recorde-se que, nos primeiros dias do novo governo, aventou-se a possibilidade de os projetos federais de tecnologia serem deslocados para as universidades, mas o assunto acabou morrendo, com a mesma rapidez com que nasceu.

O mundo está acordando para uma nova fase da globalização, no que ela tem de pertinência com o desenvolvimento industrial. Verdade é que dedicamos tempo e discussões, nas últimas décadas, tentando defini-la com tinturas meramente políticas e ideológicas, traços que ela sempre teve e tem, mas não apenas isso. A globalização é fenômeno capaz de se realizar pela via da geração espontânea ou resultado de um conjunto de fatores que se associam. Independe apenas de vontades, porque se dão por razões de natureza histórica, que não se criam em laboratórios. A primeira, sem que ninguém a criasse com discursos, foi o colossal império dos romanos, a segunda veio com as grandes navegações e descobertas, a terceira resultado do mercantilismo. A quarta seguiu-se às grandes guerras e suas consequências na geopolítica.

Os povos que percebem a véspera das grandes mudanças, antecipando-se para enfrentá-las, delas tiram proveito. Davos pode estar insinuando um novo tempo para a prosperidade internacional. O Brasil precisa estar atento.