Os relatórios que vêm sendo elaborados nas capitais dos estados sobre as atuais condições da malha rodoviária, agravadas com a persistência das chuvas que se espalham por todo o país, e em alguns casos com o risco de colapso no abastecimento, também advertem sobre as poucas e insuficientes alternativas e atalhos para o escoamento de que dispõe o transporte de carga. Uma razão a mais para preocupar.
Rodovias pavimentadas há anos cobram cuidados permanentes e reposição asfáltica, porque, se cedem, o tráfego pode parar totalmente, sem que se consiga dimensionar o prejuízo que isso representaria para a economia nacional. Sobre as consequências, alguém poderia dizer, a grosso modo, que seria a natureza disputando com a greve dos caminhoneiros, de maio último, capaz de gerar maiores danos...
Como todos os problemas cujas soluções emanam do governo, a comunicação viária vem se desfazendo rapidamente por falta de recursos orçamentários, estes historicamente escassos; e, quando não, são engolidos pelos expedientes da corrupção. É sabido que o setor de transportes sempre foi um dos preferidos na montagem dos esquemas de propina. De tal maneira, que se num passe de mágica fosse devolvido tudo que se roubou para servir ao crime, com toda certeza o ministério competente poderia recuperar boa parte das estradas que o tempo vem danificando.
Quando seria possível restabelecer a normalidade nesse setor? Não há como prever, até porque os governantes não estão informados sobre a real situação das ligações terrestres; mas sabem que é cada vez mais próxima do calamitoso. Os remendos emergenciais que se operassem nesta temporada das águas, dependendo da gravidade do problema, nunca seriam suficientes. Objetivamente, nada se poderia esperar.
Pode que ser que, preocupado em eleger prioridades entre os encargos que vai assumir, o futuro governo em boa hora se anime a despertar adormecidos estudos e projetos sobre melhor utilização das ferrovias, cuja importância, mais que sabido, acentua-se em países com largas dimensões territoriais. Como o Brasil. Neles, em que os territórios são iguais ou semelhantes ao nosso em tamanho, o trem se consagrou como a solução adequada; sob todos os aspectos essencial, a começar por trafegar em condições muito mais resistentes que as oferecidas no asfalto. As eficiências são tais, que mesmo os países menores acabaram por absorver esse serviço.
Os trilhos acrescentam às suas vantagens dois outros predicados de inegável atualidade, sobretudo se observados os interesses brasileiros: não agridem o meio ambiente e geram considerável economia de combustível. E nem por isso suas linhas deixam de ser generosas na capacidade de transportar: um comboio pode substituir meia centena de carretas.
Estudo já publicado pelo JB, com base em comparações verificadas no Brasil e confirmadas no Exterior, indica que no deslocamento de cargas em trechos além de 500 quilômetros, a ferrovia se mostra infinitamente mais produtiva que qualquer sistema rodoviário; por mais eficiente que este seja, como parece ter sido nas décadas 50 e 60 do século passado, ao suportar e estimular a nascente indústria automobilística. Mas nem por isso os governos seguintes conseguiram justificar o furioso programa de extinção dos chamados ramais ferroviários, que hoje fazem falta no interior do país.
Trata-se de um setor que deixa nossa capacidade de transporte atrasada em meio século, só quebrada com algumas poucas ampliações, sempre distantes da desejada suficiência. Agora, é esperar e ver se o novo governo terá disposição para embarcar nesse desafio.