ASSINE
search button

Fim das ansiedades

Compartilhar

Milhares de eleitores, que amanhã retornam às urnas para definir – agora, sim! - o nome do novo presidente da República, chegam a esse momento histórico como construtores de uma realidade dividida entre as esperanças de muitos e os temores de outros tantos. O domingo, amanhecendo desse jeito, quando for adormecer ficará sabendo qual o destino que se traçou para este Brasil, cansado de tanta ansiedade. Nem a antevisão sugerida pelos números das pesquisas foi suficiente para aplainar esse clima, que se tornou ainda mais pesado nas últimas horas. Mas chega o momento em que a nação, cansada de tanto esperar e discutir, quer merecer um pouco de paz. Nada mais justo.

Posta a decisão ante os dois candidatos, embalados na polarização, vai se tornar possível ao eleitor indagar sobre suas responsabilidades a posteriori; se realmente valeu a pena a opção que vai fazer amanhã, porque num capítulo seguinte seu voto terá parte no balanço do que o país avançará ou se vai assistir às promessas descerem rio abaixo. Porque é inevitável considerar que o domingo votante, faça sol ou faça chuva, terá o condão de estender suas consequências pelo tempo afora; para o bem ou para o mal.

As urnas vão dizer, antes mesmo que os cidadãos possam colocar a consciência no travesseiro, que o Brasil será, necessariamente, diferente a partir de agora, porque diferentes ou conflitantes são as propostas colocadas em julgamento; em rigor, mais que elas, subiram ao palanque as muitas idiossincrasias, ao ponto de conferirem imenso valor ao voto contrário, maior que o voto a favor.

O sábado de véspera não conseguiu chegar sem muitas intervenções de incerteza e de confusão, depois de uma campanha eleitoral que não deixou horizontes perfeitamente claros; ao contrário, misturou, e ao mesmo tempo separou, a súmula de esperanças e a gravidez dos temores. Alguns já entenderam isso; todos logo entenderão.

Sobre esse presidente que será escolhido amanhã: ele nem terá tempo para arquivar o cansaço da campanha acidentada. Ainda com mochila nas costas, começará a longa travessia entre o sonho e a realidade, pois logo conhecerá, se ainda não conhece, que o discurso de quem é eleito tem de saltar logo da teoria para a prática. Deixa de ser poesia para se fazer prosa. Nem tudo poderá ser feito como se prometeu e se desejou, porque as dificuldades vão chegando, assanhadas e poderosas já no doloroso exercício da acomodação das forças que o apoiaram; e não é pelo fato de terem sido leais que deixarão de ser ambiciosas.

Vale tomar, para conferir como coisa líquida e certa: antes de terminar o domingo, as postulações estarão na soleira da mansão do eleito, batendo à porta. Não será novidade a onda de pressões, que leva o estadista a padecer tanto dos adversários como dos aliados. O psiquiatra Steve Pieczenik, que socorreu quatro presidentes americanos que caminhavam para o esgotamento nervoso, dizia que ser presidente é ofício mais exigente do que se pensa. E concluiu que personalidade normal não deve aspirar a isso.

O que restará à nação, protagonista do voto, é esperar um balanço minimamente favorável, algo a ser cobrado em diferentes etapas do mandato seguinte. Se não for possível tudo em que se acreditou e se esperou do candidato no segundo turno; se o voto se confundiu, avaliou e julgou incorretamente, contente-se em comparar a urna de erros com a Caixa mitológica com que Zeus presenteou Pandora. Mas, depois de aberta e postas em liberdade todas as maldades, no fundo sempre fica a esperança. O que já será alguma coisa.