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Daqui a dois dias

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O que seria razoável dizer a uma nação, dois dias antes de se defrontar com eleição presidencial, sempre muito importante, mas certamente um pouco mais desta vez? Esta de 2018, o destino houve por bem empurrá-la para situações peculiares, entre as quais a ambientação de uma radicalização sem precedente, nem faltando incursões de conteúdo ideológico, algo que certos pensadores remetem às cinzas do passado. Se, para esses, a ideologia virou espécie de crematório de ideias, no caso presente nem tanto. Direita e esquerda povoaram os discursos e se empenharam em mútuas críticas. Ressuscitaram a herança do velho parlamento francês, onde os contrários tomavam as bancadas de cada lado, sem se misturarem.

Hoje, com todas as cartas jogadas, aos contendores parece nada mais caber, a não ser esperar por improváveis fatos novos e sensacionais, para ajudar ou prejudicar. É a expectativa contra o cronômetro imperturbável.

Afora o aguardo do pouco provável, ideal seria que neste fim de semana os ânimos se recolhessem, os discursos fossem mais tolerantes; se possível corteses. Que se ponha fim às fake news, com os estragos que já causaram. Tudo para emoldurar a alta responsabilidade dos eleitores, pois soou a hora em que devem se dedicar à avaliação desapaixonada dos currículos e dos programas dos dois candidatos; os dois que, tendo rompido o teste do primeiro turno, estão agora expostos à sentença final a ser prolatada pelo eleitor, o único juiz da hora.

À vista primeira, pode parecer tarefa das mais árduas optar entre os candidatos finalistas, e a um deles confiar o comando do país. Mas não tão difícil, pois na corrida que empreendem mostram-se diferentes, com ideias tão diametralmente opostas, para não se falar das origens de cada qual, que o voto julgador passa a dispor de suficientes elementos. Não haveria como titubear ante a eventual pergunta que pudesse ser feita a uma só voz ao Brasil: o que há mais entre Bolsonaro e Haddad, diferenças ou semelhanças?

A ordem, a ser preservada como prioridade, hoje e nas próximas horas, compõe o ambiente desejável ao pleito de domingo. É o que permite insistir em que se mantenham sóbrios os sentimentos, para que do processo se evitem danos de última hora. Cabendo lembrar que a experiência vivida nos últimos meses deixou como contribuição indispensável o cuidado com informações que surgem em golfadas nas redes sociais, onde é plantonista a conspiração das fake news. Nessas horas, notícias espantosas ou alarmantes, primeiro duvidar; segundo, repudiar, se forem suspeitas; terceiro, esquecê-las.

De outro lado, cuidar que a véspera de grandes lutas é sempre propícia a ciladas, como elaboração e divulgação de falsas pesquisas, que preferem chegar de abrupto, sem tempo para serem desfeitas. Essa falsidade vem para ajudar ou prejudicar determinado candidato e é ministrada em doses compatíveis com as necessidades do momento.

Pesquisas outras há que, mesmo sem se prestarem a tal leviandade, podem ser prejudiciais, quando elaboradas em cima de números imperfeitos. Tudo é possível, como prova o constrangimento dos institutos americanos, na terra consagrada como a mais perfeita nesse campo. Em 1948, a eleição do republicano Thomas Dewey era tida como inquestionável, mas foi derrotado por Truman. Quatro anos depois, a vitória deste sobre Eisenhower era tão certa, que os jornais a anteciparam no dia anterior. Tiveram de correr às bancas para recolher o vexame. Mas na linha de surpresas e perplexidades, desnecessário ir tão longe no tempo e no espaço. No começo do mês, nas Minas vizinhas, a ex-presidente Dilma, pretendendo ser senadora, vencia todas as pesquisas, com o dobro dos votos de seus adversários; e acabou em quarto lugar.

É conveniente não confundir totalmente a pesquisa com o eleitor. Costumam brincar de ciranda.