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Questões omissas

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Menos de duas semanas para que se dê por encerrada a disputa pela Presidência da República, com dois candidatos procurando consolidar os votos já conquistados e atrair os que no primeiro turno ficaram condenados à orfandade, é certo que alguns temas de capital importância vão permanecendo à margem, o que de certa forma tem explicação estratégica, pois, se são de alta relevância, comportam igualmente aspectos desgastantes. No primeiro turno não foi diferente a precaução dos demais, todos temerosos nas abordagens que podem desagradar.

Avulta, em primeiro lugar, a situação da Previdência Social, que, a se tomarem por norte vozes autorizadas, caminha para um estado pré-falimentar. O próprio presidente Temer, que fracassou na tentativa de levar a Câmara dos Deputados a enfrentar a reforma necessária, diz não ter dúvida de que estará aí o primeiro desafio para quem vier a sucedê-lo. O fato de ser a questão mais crítica do momento não foi suficiente para ganhar o espaço que merecia dos candidatos, confirmando-se uma antiga experiência dos políticos: em campanha eleitoral é contraproducente tratar de coisas que o povo prefere não ouvir. Sobre a reforma da Previdência é certo que será necessário cobrar algum sacrifício, ainda que apenas sobre os costados de aposentadorias privilegiadas.

Quando se receita amarga, melhor só cuidar do assunto no momento de ministrar o remédio. A surpresa pode ser o analgésico.

Se o modelo previdenciário chegou a um ponto quase clamoroso, não seria fácil encontrar maiores diferenças em relação ao SUS – Sistema Único de Saúde, que não consegue eliminar as filas degradantes, que há algum tempo se formavam nas ruas, mas agora avançam sobre os corredores dos hospitais. Nem viu convertido em realidade o sonho de dividir o ônus assistencial com os planos de saúde. O SUS há muito pede para ser submetido a uma cirurgia profunda e reparadora, o que certamente provocará dores; e também nessa questão os candidatos deixam que o assunto passe à margem, contemplando-o, quando muito, com referências tangenciais. Muito menos, mostram-se animados a comentar as sugestões que pretendem salvar o Sistema, porque todas elas falam em dietas quanto a benefícios em vias de serem alcançados. Não falta quem sugira a cobrança extras aos segurados, também este um assuno repugnante em tempo de campanha eleitoral. Não se pode falar nisso.

Questão de importância, igualmente condenada a ser peça de jejum neste resto de campanha eleitoral, mas desde o primeiro turno apagada nos debates e entrevistas, são as obrigações brasileiras com a política externa. Um descuido a provocar estranheza, porque os fatos que vão se desenrolando no cenário internacional não autorizam um país da dimensão do Brasil a contentar-se com breves e episódicas intervenções. Tome-se por referência os dois postulantes que ascenderam à disputada do dia 28 próximo. O que deles melhor se sabe é que um é bolivariano e o outro não. Dado que revela insuficiência, quando há interesse em saber como o novo presidente pretenderá construir a imagem brasileira para o mundo, particularmente frente aos problemas da América Latina.

O silêncio sobre esses temas, que a conveniência eleitoral recomendando temporária omissão, sonega à sociedade o direito de conhecer melhor o perfil de quem em breve estará ungido pelo voto para assumir a Presidência da República. Esse mistério em relação a temas essenciais não é o desejável.

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editorial | jb