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Campanha com singularidades

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Vivendo e aprendendo. É justo afirmar em relação às campanhas eleitorais, mas com larga presença na que se desenrola neste ano, sem que lhe faltem alguns excessos para suplantar as demais; coisas e episódios, que em outros tempos seriam capazes de ruborizar veteranos políticos, com seus defeitos, mas sempre cultivando a virtude da prudência. Hoje, os fatos entram em cena, como se o imponderável e o surpreendente não morassem mais neste país, se, no controverso, já foi possível aprender, suficientemente, que em política a única coisa verdadeiramente impossível é o impossível. Ainda no fim de semana, viu-se o candidato a presidente que lidera as pesquisas anunciando, em público, os primeiros nomes para compor seu possível ministério, atitude que não tem correspondência com o devido respeito a milhões de eleitores que ainda não votaram. Para não se falar dos riscos que costumam se esconder nas urnas.

Em São Paulo, que carrega a responsabilidade de status de principal estado da Federação, a disputa eleitoral descampou para um nível de agressividade e ofensas gratuitas, como nunca se tinha visto em terras paulistas. Alguns candidatos fizeram a campanha rebaixar ao nível dos sertões mais inóspitos e deseducados. Nisso, parece contribuir o aproveitamento que se faz do sentimento de alguns segmentos religiosos, empregando-se, em seu nome, exatamente o que repugnam os fiéis: intolerância, desamor, agressividade. Outrora, se em muitos estados existiam esses hábitos condenáveis nas campanhas eleitorais, São Paulo podia se orgulhar de não compartilhar.

Presente na primeira fase da votação, em todo o Brasil, mantém-se voraz, no segundo turno, a intenção de tirar proveito de confissões religiosas, com interesses eleitoreiros, sob o pecado de confundir Bíblia e Constituição, impropriedade da qual resulta grave ofensa aos cidadãos nas convicções que reservam como a mais pura de todas.

Novidade, entre as muitas deste ano, vai se sentir também no desprestígio, como nunca se viu, a que foram condenados os partidos e as lideranças políticas. Sempre cortejados e incensados nos últimos tempos, mas ainda na campanha eleitoral de agora parecem destinados à vala comum em desgastante plano inferior, quando a questão gravíssima da hora é a escolha do novo presidente da República.

Há um exemplo no vídeo. Confiante em que diz coisa que o eleitor gosta de ouvir, em Minas, para confirmar a quadra de singularidades, um até então desconhecido candidato levado à disputa do dia 28, anuncia o banimento dos políticos. Promete, em seu eventual secretariado, apenas técnicos. Quanto às relações com a Assembleia Legislativa, sem concessões. Não se encontra antecedente, por mais que se procure, caso de Executivo que tenha dispensado o diálogo com a instância parlamentar, e consiga manter-se de pé. Inviabiliza-se. Inevitável castigo aos governantes que negam sua origem, pois todos eles começam sendo políticos e partidários. É uma realidade da qual não têm como escapar.

Outra excitante novidade, à espera de luzes e esclarecimentos, tratando-se do segundo turno presidencial, é o denominado “apoio crítico”, atitude admissível, com alguma boa vontade, quando se trata de governo. Se o que está em jogo é disputa eleitoral, eivada de radialismo, esse tipo de apoio parece solução para um duplo temor: se avança errado pode se dar mal; se não, peca na omissão. Para os partidos que assim acharam ser conveniente, como os que, em atitude pilatesca, lavaram as mãos e liberaram os que os seguiram no sinédrio das convenções, melhor é não se expor ao segundo tiroteio, e deixar a conversa para depois da posse.

A dúvida que fica e que não cala é se tudo isso que acontece é para aprender ou desaprender.