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Um divórcio impossível

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Estaria incorrendo em grave equívoco quem dissesse que o futuro presidente, a ser eleito dentro de alguns dias, devia elaborar a opção, logo no início de seu governo. Que bem cuidasse da política ou bem da economia, ideia que nas primeiras semanas da disputa eleitoral andou germinando entre colaboradores de alguns candidatos, como se fosse possível dissociar uma coisa da outra. Na verdade, elas sempre andaram juntas; mais que isso, em regime de profícua interdependência, nas vezes em que seus objetivos comuns revelaram-se exitosos. É de se acreditar que quem pretendeu avançar com tal ideia apenas desejou marcar alguns pontos de simpatia junto a uma parcela do eleitorado descontente com a conduta dos políticos; e movido por esse descontentamento acaba condenando a política de modo geral, que está muito acima de seus maus agentes. No esforço para contentar os decepcionados, procurou-se levantar a impossível bandeira da separação. É preciso dar asas à verdade: eis um divórcio que nem cabe examinar.

Não de hoje que se ouvem vozes que sentem na política um mal a entravar medidas teoricamente capazes de ascender os meios de produção; e, por via desta, garantir, num futuro imediato e consequente, melhores índices de desenvolvimento social. Trata-se de um exercício de ficção; e os eleitores de domingo próximo e do último do mês fariam bem não se deixando levar por insinuações dessa natureza, sejam quais forem seus candidatos de preferência. Não há entre eles quem tenha essa fórmula mágica, ao mesmo tempo suicida, de separar: política de um lado, o programa de recuperação econômica do outro, como se um deles fosse o joio a comprometer o trigo.

O isolamento não teria como produzir bons resultados, sobretudo e de modo particular, quando um governo opera sob o regime das franquias democráticas, como teremos. Mas estando essas franquias vigendo ou suspensas no autoritarismo, a prática de um programa econômico não tem como dispensar a sustentação política.

De fato, nem os governos fortes conseguiram ser exceção. Os dois ministros da área econômica que mais tempo permaneceram no cargo – Souza Costa, 11 anos com Getúlio Vargas; e Delfim Neto, 12 anos e seis meses nos governos militares pós-64 – viveram muitos momentos em que a oitiva política teve de ser considerada, não raro sobrepondo-se ao caráter eminentemente técnico de medidas pretendidas. Os atuais candidatos à Presidência da República sabem, embora não tenham sido explícitos na campanha em que se digladiam, que não teriam como governar, se lhes fosse imposta a aventura de jogar para a margem a economia ou a política, uma em detrimento da outra. Certas experiências ditatoriais incursionaram na tentativa do distanciamento, e nada mais conseguiram, se não fracassos e frustrações.

Em verdade, andará bem o presidente que se dispuser a governar com os dois campos perfeitamente integrados, sem descuidar, em primeiro plano, da necessidade de seu ministro da Fazenda não ser mero escravo dos juros e câmbios quando estes não se prestassem a contribuir com o desenvolvimento social; não mero servidor de subidas e descidas de diagramas dos deveres e haveres.

Já estão sinalizadas certas relevâncias para o governo que vai se instalar em janeiro, verdadeiros desafios, que logo estarão a exigir harmonia plena entre os integrantes do ministério, porque, sem estar inspirado e sustentado pelo espírito de metas comuns, o êxito do mandato estará comprometido.