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Pequenas e médias empresas, um hiato intransponível?

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É notório o que acontece com a falta de boas oportunidades e bons ativos para alocação, somados à redução recente da taxa Selic e ao excesso de liquidez das casas gestoras e fundos de investimento. A volta da bolsa aos cem mil pontos não denota necessariamente uma aposta de investidores e fundos no potencial do PIB e na transformação estrutural do país. Ela demonstra ser uma aposta redobrada e, de certa forma, leniente no modelo de negócio vigente pré-Covid e no histórico de performance de grande parte das empresas listadas na Bolsa de Valores B3, a quinta maior bolsa do mundo.

Sem dúvida, listar uma empresa é um objetivo louvável e não trivial. Manter níveis de governança elevados também é condição necessária na atratividade de recursos e na pulverização da base de acionistas. Empresas listadas gozam de melhores percepções de preço de suas ações, crédito mais barato e assédio de fundos. Tudo isso faz sentido e tem muito mérito.

Por outro lado, vemos que as empresas que não possuem capital aberto estão vivendo um inferno astral no que se refere às novas rodadas de crédito, fundamentais para passarem pelo período de vale econômico atual. A chance de sobrevivência nunca foi tão materialmente distinta para os “não listados”. A consolidação dos setores, já é uma realidade e só deve aumentar a velocidade.

A maior parte das empresas, independentemente de possuírem capital aberto ou não, ainda não revisitou seu modelo de negócios, de forma sólida, adequando-o ao novo normal. A retomada da economia em “V” é muito mais um desejo do que um cenário crível neste estágio. Quando a farra monetária e fiscal acabarem nos próximos meses, tanto nos EUA quanto aqui no Brasil, sentiremos o PIB mais “descoberto", além da real noção das mudanças e desafios que atingem os negócios.

As operações de governo focaram, até o momento, muito no micro empresário. As empresas de médio porte, em sua grande maioria, não vão conseguir sobreviver sem uma rodada de empréstimo, mínima que seja. Diversos setores e empresários pegaram sua última rodada de empréstimos no último trimestre de 2019, pré-Covid. As operações de Pronampe ajudaram, e muito, o microempresário, mas foi isso. O Pronampe liberou, em média, R$ 100 mil por empresa.

O PEAC/FGI, liberado na segunda feira, vem para quem tem colateral, e os bancos estão muito cautelosos em não abusar da garantia complementar do BNDES nesta modalidade -- o que de certa forma é bastante saudável. Provavelmente, este produto também será insuficiente para a demanda atual, assim como foi o Pronampe, cujos recursos foram tomados em 48 horas pelas microempresas através dos grandes bancos de varejo. E isso deixou uma boa parte da população empresarial desassistida.

O governo tem que mirar no mercado da pequena e da média empresa, ainda bastante desassistido, se quiser que este setor sobreviva economicamente. E assim tenhamos, quem sabe no futuro, alguns novos casos de abertura de capital na bolsa, criando assim um ciclo mais virtuoso de negócios.

Marco França é engenheiro formado pela PUC Rio, tem MBA pela Coppead/UFRJ e é sócio da Auddas, voltada à gestão de negócios.