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O tudo e o nada

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O tudo e o nada embora habitem tão distantes, sejam conceitos contrários, de vez em quando se beijam. Se encontram e se beijam porque são compatíveis, são semelhantes, são em certo sentido idênticos, uma vez que não existem. O tudo não habita esse mundo, não existe o plenamente perfeito. Aqui nesta dimensão, o bem e o mal dividem o mesmo espaço. Por outro lado, o nada também não existe. Não existe um espaço tão absolutamente vazio onde não haja nada, sempre existe algo, um átomo, um mícron, um vírus, um suspiro, uma esperança. De repente o “tudo” e o “nada” se encontraram, fizeram história e resolveram andar juntos.

Dentro da arrogância humana, alguns se consideram “tudo”. Nações poderosas, protecionismos, raças, elites, etc. E o “tudo” de repente pode se ver ameaçado pelo “nada”, tão pequeno, não dá nem para ver, mas também é poderoso.

No início de sua história o Brasil primeiramente foi uma colônia de exploração e depois Monarquia. Passou por 4 ciclos econômicos, o primeiro oriundo do relacionamento entre portugueses e índios, o pau-brasil, apresentado pelos índios aos portugueses, fez sucesso na Europa, seguido pelo açúcar, ouro e diamantes e, por último, o café. Vale lembrar que durante o século XVIII boa parte da produção mundial de ouro e diamantes vinha de nossas terras. O delicioso café nos fez ser a última nação a abolir a escravatura, em função da total dependência dessa cultura à mão de obra escrava. Caiu a escravidão, caiu também a Monarquia.A República chegou, mas o Brasil pouco mudou, aqui não se investia em educação.

Andando para frente temos a industrialização, estatizações, leis trabalhistas, crescimento do PIB, Bossa Nova, construção de Brasília, muitas realizações e muitas contas para pagar. Tivemos militares no poder, grandes obras de infraestrutura, falta de políticas públicas, desajuste fiscal, inflação explodiu. Tantas tentativas de ajuste, um plano deu certo! Indexação da moeda, Plano Real. Temos muito pouco investimento em educação.

Chegou a virada do século, e no início dos anos 2000 tivemos uma virada na economia de fato, desemprego caiu, desigualdade diminuiu, poder aquisitivo cresceu, reservas aumentaram, houve superávit comercial, a política monetária estava equilibrada.

Em 2011 ampliamos o acesso às universidades, mas os gastos públicos estavam muito altos. Em 2014 o Governo perde confiança e em 2015 estoura uma imensa crise de corrupção no país, a economia fica estagnada.

Em 2019 temos uma nova eleição com a promessa da gestão da mudança. Palavras como inovação disruptiva entram na moda, a transparência cria força. Surge a exigência da Lei Geral de Proteção de Dados, a economia dá sinais de aumento da confiança, a projeção do PIB cresce timidamente, uma pequena crença de não haver uma segunda década perdida pairava no ar, até que chegou o COVID-19.

No início não parecia nada. Será que não é boato? Será que chega aqui? A China é tão distante, mas o que é realmente distante em tempos de globalização? A distância nos parece uma condição mais psicológica do que realmente física.

O vírus causa incerteza, abala os investimentos, começa a incomodar. Até que ele chegou, e chega trazendo mais perguntas do que respostas. Chega provocando um duelo entre gigantes, China e EUA. Parece que o Oriente vai cobrar o devido respeito, afinal de contas são as civilizações mais antigas do mundo. Chega de acusações infundadas, chega da ameaça de um tratado como o antigo Tratado de Tordesilhas, parece que o mundo vai ser dividido novamente.

E nós, onde ficaremos? Alguém disse, somos grandes, mas não somos gigantes. Sentimos a falta dos investimentos em educação, precisamos de mais tecnologia.

Temos a nosso favor a geografia, estamos relativamente distantes do duelo, temos boa vizinhança, somos inquestionavelmente cordiais. Temos riquezas, e a potencialidade para a diplomacia é a maior delas. Usemos nossas armas, a sinergia e a valorização das relações serão as melhores.

Podemos sair fortalecidos! Podemos olhar para trás e aprender com o passado, seremos inteligentes se aprendermos com os nossos erros, seremos mais ainda se aprendermos com os erros dos outros. Temos oportunidades.

Precisamos valorizar nosso potencial, somos um dos maiores exportadores agrícolas do mundo, mas de nada adiantaria produzirmos tanto e não termos para quem vender. Uma comunicação fácil, fluida e construtiva é a chave para mantermos boas relações externas.

Temos conflitos internos, precisamos resolvê-los de forma pacífica, não abriremos mão da democracia conquistada. Somos convocados a avançar com tudo que temos, mesmo que para alguns pareça nada.

Acredito que entre o duelo dos gigantes não haverá apenas um vencedor, diferentemente de todos os duelos, neste, os dois vencerão. Acredito também que um dia o “nada” encontrou com o “tudo”, na criação do mundo, pois do nada, Deus criou todas as coisas. Estamos agora diante da criação de um novo mundo, se melhor ou pior, dependerá, em parte, de nós!

Cristiana Aguiar. Economista, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, especialização em Gestão de Pessoas e Equipes pela PUC – RJ, conselheira do Conselho Empresarial de Governança e Compliance da Associação Comercial do Rio de Janeiro – ACRJ e autora de diversos artigos publicados.