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O país dos cientistas

Antonio Cruz/Agência Brasil -
Hélio Costa
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Os escravos chamavam o filho do senhor de engenho de “doutorzinho”. Os mais pobres ainda se referem ao mais rico como “Doutor”. Qualquer portador de um diploma universitário é “Doutor” para os menos esclarecidos.

Agora, com a conivência da mídia, quem cursou ciências políticas é um cientista e passa a se apresentar e assinar seus textos como “cientista político”.

Enquanto isto os verdadeiros cientistas que nos laboratórios estão realmente fazendo um trabalho científico são chamados modestamente de pesquisadores.

Incomoda a quem viveu o ambiente universitário nos Estados Unidos ou na Europa, ver quem se formou em ciências políticas ser chamado de cientista político. Na verdade, nos países do primeiro mundo estes bacharelandos são apenas “analistas” políticos. O prenome cientista é reservado, nos Estados Unidos, na França, na Inglaterra, no Japão, na China e na Rússia, para os verdadeiros cientistas, com teses reconhecidas em todo o mundo, ou seja, os assemelhados de Einstein, Newton, Pasteur, Sabin, Von Braun e tantos outros.

E não podemos esquecer o que o mestre Ariano Suassuna deixou bem claro: “se você chama o Ximbinha de gênio da música, de que vai chamar o Beethoven?”.

Muitos dos que poderiam ser chamados de cientistas políticos, Summa Cum Laude, eram poucos e já se foram: Ulysses Guimarães, pela liderança entre pares; Santiago Dantas, pela cultura; Antônio Carlos Magalhães, pelo comando político; Tancredo Neves, pela união nacional; Afonso Arinos, pela retidão política; Carlos Lacerda pela oratória.

Por outro lado, não é justo que os que se graduaram em ciências médicas, ciências sociais, ciências biológicas, ciências contábeis e tantas outras ciências não tenham também o direito de serem chamados de cientistas.

Ciência de verdade, reconhecida em todo o mundo, não é prioridade no Brasil. Quem quiser ser cientista de verdade tem de ir embora, como fez a brasileira Lia Medeiros que participou da equipe que registrou a primeira imagem de um “buraco negro”. Miguel Nicolelis, que pesquisa a integração do cérebro e maquinas na Universidade Duke, nos USA, ou o Marcelo Gleiser, do Dartmouth College, USA, ganhador do prestigiado prêmio Templeton.

O orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) para 2020 diz tudo. O governo federal vai gastar meros R$800 milhões de reais em recursos não reembolsáveis que serão destinados principalmente à compra de equipamentos e manutenção de infraestrutura laboratorial nas universidades e institutos para a pesquisa científica.

Mas, é bem provável que, se fizermos as contas, o Brasil é o país dos cientistas.

Hélio Costa é ex-Senador da República, ex-ministro de Estado.

Antonio Cruz/Agência Brasil - Hélio Costa