Ao parar meu carro em um sinal no Centro do Rio de Janeiro, decidi colaborar com um pedinte que andava manquejando entre os carros. Ao abrir meu vidro, me deparei com um sorriso entusiasmado e uma saudação abençoadora. Logo percebi que havia recebido muito mais do que doei e me senti impactada ao refletir como uma pessoa, a princípio vivendo a margem da sociedade, poderia ter tanto entusiasmo, e ainda, ao estender uma de suas mãos para receber uma esmola, na outra mão havia muito mais a oferecer.
Hoje no meio corporativo, vejo muitas pessoas indo trabalhar todos os dias sem entusiasmo e chegando em seus ambientes de trabalho sentindo que tem pouco a acrescentar. A eficiência é solicitada cotidianamente, mas parece que ela tem escorregado pelos dedos. Alguns gestores tem a nítida sensação de que se saíssem de cena, as áreas não andariam sozinhas.
De acordo com Aristóteles: " Somos o que repetidamente fazemos. A excelência, portanto, não é um feito, mas um hábito. " Hábitos são construídos a partir de ações, as quais por sua vez, são construídas através dos pensamentos. Portanto, pessoas desmotivadas, dificilmente executam o melhor que conseguem.
Importante ressaltar a diferença entre eficiência e eficácia. Eficiência é por definição "o ato de fazer certo as coisas", enquanto que eficácia é fazer a coisa certa. Sutil, mas existe diferença. Para atingirmos a eficácia, precisamos pensar em 2 fatores: a produção e a capacidade de produzir.
Por vezes focamos na produção, no produto final e esquecemos de investir na capacidade de produzir. Exemplificando, se utilizarmos uma máquina sem investir em manutenção, acabamos com a capacidade de produção dela. De outra forma, se focarmos apenas na capacidade de produção, corremos o risco de negligenciar que é o produto que gera renda e lucro, portanto, merece bastante atenção quanto as mudanças do mercado, inovações, concorrência, etc.
Se considerarmos os três tipos de ativos: físico, financeiro e humano, atentaremos para a necessidade das manutenções das máquinas, da diligência na administração dos recursos financeiros, afim de não deteriorarmos o capital, sem o qual perdemos a capacidade de investir, e por fim, a necessidade de nos reciclar, investir em nós mesmos, descansar. Se deixarmos de utilizar o tempo com sabedoria, perdemos a criatividade e a perspicácia, perdemos nossa "capacidade de produção. "
Se pensarmos em gestão pública, precisamos criar indicadores claros e segui-los (aparentemente tão óbvio, mas muitas vezes negligenciados), precisamos de transparência para evitar a corrupção, auxiliar na criação de análises de desempenho das pessoas e projetos, além de proporcionar alicerces para que boas políticas públicas possam ser continuadas. Precisamos ainda, simplificar os processos e controles internos. Da forma como são realizados, parece que os meios são mais importantes que os resultados. E por fim, unir todas esferas em torno de demandas comuns. Imagine o quanto se perderia, um projeto de desenvolvimento social que não conversasse com os direitos humanos. Soluções mais assertivas, acontecem na união de necessidades, ideias e contextos.
Que tenhamos um Brasil eficiente e eficaz, lembrando que não precisamos de perfeição para isso, uma vez que tudo começa com uma boa motivação.
De onde vem a motivação daquele pedinte, sigo sem saber, mas arrisco dizer que se encontrarmos o paradigma fundamental da eficácia, que é o nosso paradigma pessoal, saberemos como enxergar a nós mesmos.
Entre o que acontece conosco, tanto o estímulo, quanto a reação, temos a liberdade e o poder de escolher qual será a nossa resposta. Sempre poderemos escolher, como o que acontece conosco irá nos afetar.
A chave da mudança está em nossas mãos!
Cristiana Aguiar é Economista, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, especialização em Gestão de Pessoas e Equipes pela PUC – RJ, conselheira do Conselho Empresarial de Governança e Compliance da Associação Comercial do Rio de Janeiro – ACRJ e autora de diversos artigos publicados.