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É preciso encontrar os meios-termos

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Numa sociedade caracterizada pelo apelo à liberdade, importa a existência de um espaço livre para o espírito, obedecendo às próprias regras. Em última análise, depende da exigência do espírito às suas interrogações e ao seu caminho.

Uma exigência que abre uma nova dimensão do diálogo. O mero falar é o fim e a ausência do diálogo. Daí que o autêntico diálogo é um processo de abertura para o diferente, para o outro. Deixá-lo penetrar no espaço do próprio eu.

Agostinho dizia que a comunidade de amigos podia se ouvir e se compreender mutuamente, porque todos escutavam a verdade. Quando a verdade deixa de merecer empenho, o conhecimento só poderá ser avaliado pela utilidade.

Nos dias de terror do Terceiro Reich, a aliança entre máquina e política manifestou com dureza a sua utilidade. Historicamente, sabemos que no longo prazo só pode prosperar a sociedade orientada para a verdade, não para a utilidade.

Onde a verdade estiver ausente, a política não será uma genuína técnica de organização das relações entre os indivíduos.

Política que irá nos lembrar do caráter contingente de toda comunidade humana. Não há uma fatalidade brasileira. A relação concreta dos indivíduos como uma comunidade particular só se estabelece pelo diálogo: a razão é a linguagem.

O terreno comum da razão, que é o cerne do ideal democrático, supõe a troca. Hoje o indivíduo, confrontado com uma globalidade na qual não mais se reconhece, torna-se facilmente tentado a se abrigar em comunidades particulares.

Fato é que, atualmente, a globalização tem sido acompanhado de nacionalismos étnicos e fanatismos religiosos. Entre a universalidade apolítica do mercado e o caráter particular de comunidades, é preciso encontrar os meios-termos.

Engenheiro, é autor do livro "Por Inteiro" (Editora Multifoco, 2019)