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O caso CCR Barcas: uma análise do que vem acontecendo com este modal

Reprodução/site da CCR Barcas -
Embarcação da CCR Barcas
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Na semana passada, a Concessionária CCR Barcas anunciou alteração na grade horária de três trajetos (Cocotá x Praça XV, Paquetá x Praça XV e Praça Arariboia x Praça XV) e a junção de um deles em determinados períodos do dia (Paquetá x Cocotá x Praça XV). Segundo a empresa, essas mudanças foram decididas após a Justiça autorizar, porém a Agetransp (agência reguladora deste modo de transporte) desconhecia o fato.

Na verdade, a polêmica envolvendo este meio de transporte não é recente, ela se arrasta desde 2015 quando a operadora acenou para a devolução da concessão. Na época, ela alegou que estava sofrendo diversos prejuízos com o serviço. O Governo do Estado do Rio de Janeiro prometeu reavaliar o contrato, pois segundo o secretário, ele não atendia os interesses de diversas partes envolvidas com o transporte (empresa, usuários e o próprio governo).

Após pressão da Justiça e do Ministério Público, o Governo do Estado do Rio de Janeiro prometeu fazer outra licitação referente a este meio de transporte com a inclusão de estudos para novos trajetos pela empresa vencedora do certame, entretanto, a CCR Barcas só poderá entregar o serviço após a outra empresa ser definida, para não afetar a regularidade da operação e os usuários.

Além desses aspectos, temos que verificar outras ocorrências. As obras do Porto Maravilha influenciaram também na queda de passageiros do modal, pois o mergulhão da Praça XV e o Terminal da Misericórdia foram desativados. O primeiro foi incorporado ao Túnel Marcello Alencar, e os pontos finais do terminal citado foram redistribuídos pelo Centro da Cidade, o que reduziu a quantidade de integrações com o transporte aquaviário. Isso aconteceu por volta de 2014.

Atualmente, existe uma estação da Linha 2 do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) próxima à estação das barcas, que foi inaugurada em 2017, porém, para este modo de transporte contribuir no aumento da quantidade de passageiros do modal aquaviário, é preciso muito mais do que a integração física e sim de uma política tarifária que inclua mais uma opção de transporte no Bilhete Único Intermunicipal.

Acredito que esse é o grande problema das barcas. Quem mora em bairros afastados do Centro de Niterói e se destina a outras áreas da capital que não seja a região central acaba não optando pelo meio de transporte para evitar o pagamento de outra tarifa. E vice-versa. No caso de Cocotá, o ponto desfavorável é a tarifa em comparação à dos ônibus que atendem a Ilha do Governador (R$6,30 para R$4,05), sem contar que a expansão da quantidade de linhas de ônibus via Linha Vermelha acabou agilizando esse modal.

Alguns projetos de mobilidade urbana poderiam trazer mais passageiros para as barcas. É o caso da expansão da Linha 2 do Metrô até a Praça XV, que não saiu do papel devido a construção da Linha 4 e a crise em que o Governo do Estado do Rio de Janeiro mergulhou logo em seguida. Provavelmente, isso poria fim ao trecho compartilhado entre as estações Central e Botafogo, e traria outra opção para usuários que se destinam a Niterói e moram ou trabalham perto das estações da Linha 2.

A conclusão que se pode chegar é que um conjunto de fatores afetou o transporte aquaviário do estado do Rio de Janeiro. Um serviço importante para milhares de pessoas e que tem sofrido perdas ao longo de vários anos. Como o poder concedente não tem tomado providências, a empresa acaba adotando medidas que prejudicam os usuários por não ter outra saída. É necessário que a mobilidade urbana seja pensada em conjunto para evitar casos como esse.

*Gilean Teixeira da Rocha é Administrador, Busólogo e Técnico em Telecomunicações.