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Acolher com compaixão

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Atualmente as sociedades economicamente mais avançadas tendem para um acentuado individualismo gerando a globalização da indiferença. Neste cenário, os migrantes, os refugiados, os desalojados e as vítimas do tráfico de seres humanos aparecem como os sujeitos emblemáticos da exclusão, porque, além dos incômodos, acabam alvo de julgamentos que os consideram como causa dos males sociais. Nesta perspectiva, todo indivíduo que não se encaixa nos parâmetros de bem-estar físico, psíquico e social fica em risco de marginalização e exclusão.

Por isso, a presença dos migrantes e refugiados – como a das pessoas vulneráveis em geral – constitui, hoje, um convite a recuperar algumas dimensões essenciais da nossa existência cristã e da nossa humanidade. O Papa Francisco, por ocasião do Dia Mundial do Migrante e Refugiado, que será celebrado no próximo domingo, escreveu uma mensagem intitulada “Não se trata apenas de migrantes!”.

Isso porque não se trata apenas dos migrantes e refugiados, mas também dos nossos medos. As maldades do nosso tempo fazem aumentar o nosso receio em relação ao desconhecido. E isto se nota particularmente hoje, perante a chegada de migrantes e refugiados que batem à nossa porta em busca de proteção, segurança e um futuro melhor. Esse receio é legítimo, o problema não está no fato de ter dúvidas, o problema surge quando este condiciona o nosso modo de pensar e agir, e nos torna fechados e intolerantes.

O Papa insiste que é preciso ter compaixão. A compaixão nos torna sensíveis e mais humanos, provocando um impulso de nos fazermos próximos de quem vemos em dificuldade. Como nos ensina o próprio Jesus, ter compaixão significa reconhecer o sofrimento do outro e passar, imediatamente, à ação para aliviar, cuidar e salvar. Ter compaixão significa dar espaço à ternura, ao contrário do que tantas vezes nos pede a sociedade atual, ou seja, que a reprimamos. Abrir-se aos outros não empobrece, mas enriquece, porque nos ajuda a ser mais humanos: a ter como meta não os próprios interesses, mas o bem da humanidade.

O que estamos refletindo não é apenas a causa dos migrantes; não é só deles que se trata, mas de todos nós, do presente e do futuro da humanidade. Os migrantes, especialmente os mais vulneráveis, nos ajudam a entender os sinais dos tempos. Através deles, o Senhor nos chama a uma conversão, a nos libertar da indiferença e da cultura do descarte. Através deles, o Senhor nos convida a construir um mundo cada vez mais condizente com o projeto de Deus.

O Papa diz que a resposta ao desafio colocado pelas migrações contemporâneas pode se resumir em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. Mas estes verbos não valem apenas para os migrantes e os refugiados; exprimem a missão da Igreja a favor de todos os habitantes das periferias existenciais, que devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados. Se pusermos em prática estes verbos, contribuiremos para o desenvolvimento humano integral de todas as pessoas.