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O contrato nas eleições, o pior dos mundos

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É difícil dizer o que é pior: os Deputados que traíram os partidos que os elegeram ou os acordos que movimentos políticos e ideológicos fizeram com os partidos para comprometer o exercício dos seus mandatos.

Os partidos políticos são organizações que congregam pessoas de todos os cantos do País, são nacionais, com direções organizadas nas diversas cidades e bairros das grandes cidades, nos Estados e direção nacional. Seus militantes se reúnem e discutem temas locais e nacionais (pelo menos deveriam), levam propostas nas campanhas eleitorais, a cada dois anos levam suas ideias para as ruas, ficam conhecidos por suas bandeiras e posições. O povo os vê, os identifica muitas vezes, dá apoio ou não. Avalia o desempenhos dos seus eleitos e faz o julgamento daquele grupo de pessoas.

Recentemente, surgiram algumas organizações, chamadas ongs, que escolheram alguns candidatos nas eleições ajudaram tais candidatos e os financiaram nas campanhas e os matricularam em alguns partidos diferentes. Agora se fica sabendo que essas organizações fizeram acordos com diversos partidos (ao que se sabe, Rede, PSB, PDT, PPS), exigindo que os partidos deem liberdade de atuação aos seus candidatos e permitam que eles se conduzam de acordo com os objetivos, projetos e programas de tais organizações. Exigiram tratamento igual aos demais candidatos tradicionais dos partidos e até aporte igualitário de recursos do fundo partidário e eleitoral, dinheiro público colocado nos partidos políticos.

Os partidos têm seus estatutos e manifestos registrados na Justiça Eleitoral, são públicos, os programas dos candidatos majoritários são igualmente registrados. Os programas, projetos e objetivos de tais organizações, quais são? Ninguém sabe, ninguém vê.

Nas campanhas, os candidatos são identificados pelos partidos, os deputados são eleitos pelo conjunto de votos obtidos por todo o partido. Mas o exercício do mandato é ditado pelas organizações. O que são elas? Sabe-se apenas alguns nomes: Lehman, Armínio Fraga, Luciano Huck, dentre outros ligados ao mundo do dinheiro.

O mandato exercido e a política praticada por meio de contrato: nada pior para conspurcar a vida da democracia e a existência da República do que um arranjo como esse.

Partidos que se dizem socialistas e trabalhistas agora assistiram deputados que se elegeram por suas bandeiras e com os votos obtidos por todo o partido votarem no projeto de alteração da Previdência Social em prejuízo dos trabalhadores brasileiros e repudiado por todas as suas organizações. O PSB, pela tradição dos socialistas democráticos e por ter tido como líder em tempos recentes a figura de Miguel Arrais e o PDT, fundado e liderado por Leonel Brizola, mancharam suas imagens e histórias ao celebrar um contrato como esse. O PDT, em particular, já há muito é visto como um desvio da tradição trabalhista de Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, formuladores e símbolos do trabalhismo, que implantou a Previdência Social e a Legislação Trabalhista e tudo o mais de bom e que deu certo no Brasil, que agora procuram destruir.

Os partido políticos já são instituições deterioradas e repudiadas pelos brasileiros, mas o que fizeram pioram mais as coisas.

O lado mais podre desses contratos na política é que isso implica colocar dinheiro nas eleições sem prestar contas à Justiça Eleitoral, sem ninguém ficar sabendo de onde vem. É o Caixa 2 mais deslavado que já vi. Algumas direções partidárias, já se sabe, gostam muito de dinheiro.

* Foi Deputado Federal, Constituinte

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