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São Bento: o silêncio do encontro

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Para os tempos atuais em que vivemos uma decadência de valores e virtudes, São Bento – cuja festa celebramos hoje - é um grande exemplo de que quem procura Deus pode ajudar a transformar o mundo, assim como ele, através da sua vida, ajudou a transformar a Europa do seu tempo.

A figura de São Bento é singular não só na história da Igreja, mas na história universal. Em Roma, fundou o primeiro mosteiro e escreveu a sua Regra. Nessa trajetória, não trilhou apenas um caminho espiritual, mas um caminho que teve implicância social, religiosa e educacional.

Ele ultrapassou o limite do espiritual, do religioso e a vida da Igreja, invadindo através da espiritualidade a vida e os diversos ambientes da vida social. Em volta dos mosteiros surgiram cidades, vocações e escolas. Considerado e proclamado padroeiro da Europa, a ação nos mosteiros foi importante para a preservação da produção clássica. Os mosteiros influenciaram ainda as cidades que nasceram no entorno, despertando o olhar do seu tempo para o silêncio, a oração e o recolhimento.

Podemos nos perguntar o que um monge que viveu há mais de 1500 anos tem para nos ensinar hoje? A Regra de São Bento é essencial ao homem do nosso tempo que está imerso em um ambiente de barulho, de correria. Ninguém tem tempo, e isso é muito prejudicial para a vida emocional. São Bento promove a dinâmica do silêncio. Não é ficar calado ou a ausência de qualquer ruído. O silêncio tem que ser a possibilidade do homem de se recuperar a si mesmo e se colocar diante do silêncio de Deus.

O nascimento de São Bento é datado por volta de 480, na região da Núrsia. Os seus pais abastados o enviaram para Roma para a sua formação nos estudos. Mas ele não permaneceu por muito tempo na Cidade eterna, pois não concordava com o estilo de vida de muitos dos seus companheiros de estudos. Assim, ainda antes da conclusão dos seus estudos, ele deixou Roma e se retirou na solidão dos montes a leste da cidade. Depois de uma primeira estadia na aldeia de Effide, onde durante um certo período se associou à uma comunidade religiosa de monges, se fez eremita na vizinha Subiaco. Ali viveu durante três anos completamente sozinho numa gruta que, a partir da Alta Idade Média, constitui o coração de um mosteiro beneditino.

O período em Subiaco, marcado pela solidão com Deus, foi para Bento um tempo de maturação. Ali tinha que suportar e superar as três tentações fundamentais de cada ser humano: a tentação da autossuficiência e do desejo de se colocar no centro, a tentação da sensualidade e, por fim, a tentação da ira e da vingança. De fato, Bento estava convencido de que, só depois de ter vencido estas tentações, ele poderia dizer aos outros uma palavra útil para as suas situações de necessidade. E assim, tendo a alma pacificada, estava em condições de controlar plenamente as pulsões do eu, para deste modo ser um criador de paz ao seu redor. Só então decidiu fundar os seus primeiros mosteiros.

No ano de 529 Bento deixou Subiaco para se estabelecer em Montecassino. E, em 21 de março de 574, concluiu a sua vida terrena, deixando a sua Regra com a família beneditina por ele fundada. Um patrimônio que ainda hoje continua a dar frutos em todo o mundo.

A vida de São Bento sempre é relatada imersa em uma atmosfera de oração, fundamento principal da sua existência. Sem oração não há experiência de Deus. Mas a espiritualidade de Bento não era uma interioridade fora da realidade. Na agitação e na confusão do seu tempo, ele vivia sob o olhar de Deus e precisamente assim nunca perdeu de vista os deveres da vida cotidiana e o homem com as suas necessidades concretas.

Podemos hoje, com São Bento, aprender a ser verdadeiros humanos. Buscar o silêncio na oração e depois, traduzi-la em ação concreta! São Bento, rogai por nós!

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