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Antissemitismo: infelizmente presente, imorredouro, eterno

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Em 2006, publiquei um livro cujo título era, segundo sugestão aceita e criada por meu editor Eduardo Salomão da Imago, “O Ódio entre os homens. Antissemitismo: o mais longo dos ódios”. Tratava-se de mais um compêndio, dentre os muitos que já existiam, sobre a história e os diversos feitios e matizes que este sentimento hediondo e nefasto tem se manifestado em tantos países do mundo. A meu ver, pode-se compará-lo a uma metástase destruidora que encontra abrigo na difusão deste verdadeiro câncer social.

Por razões muito recônditas dentro de minha alma, o tema despertou o meu interesse profundo e com dedicação e afinco procurei explorar e desenvolver este desafio da melhor forma possível, levando-se em conta, é claro, as minhas limitações e minhas poucas qualidades. O resultado, segundo minha autoavaliação, foi um bom livro de pesquisa honesta e que resultou em uma fidedigna fonte de pesquisa sobre o tema proposto. Ele foi traduzido para o inglês (o esperanto da atualidade) sob o título: “Hatred among men. Anti-semitism, the longest hatred”.

O que me entristece, o que me leva a derramar lágrimas sofridas pelas minhas faces envelhecidas, o que me faz sofrer intensamente é constatar que hoje, muito hoje, o meu livro é atualíssimo. Como poder transmitir com fé e esperança aos meus amadíssimos cinco bisnetos e mais dois a caminho, todos morando fora do Brasil, que é ainda consolador que se possa ouvir a beleza de sons musicais, eruditos ou populares, que se possa enternecer com o perfume das flores, que se possa ter o maior sentimento de gratificação ao ajudar ou acolher um outro ser humano necessitado, que se possa comover com um por de sol na praia ou com o surgimento do sol anunciando um novo dia, que se possa abraçar uma árvore como minha bisnetinha Gabriela me revelou porque as árvores são nossas amigas e delas fazemos o papel que é tão importante (Ela ainda não fez 4 anos) ou como meu bisnetinho Rafael (com 4 anos incompletos) reivindica seus direitos com ações diretas e conclusivas, e por aí vai.

Todos estes pensamentos lindos afloram à minha mente quando é sábio otimizar o pouco tempo usufruível que nos resta, porque, queiramos ou não, o estoque de amanheceres e de crepúsculos está diminuindo muito rapidamente. Confesso que, no que me toca neste “latifúndio”, tenho envidado meus melhores esforços. Creio ter alcançado algum êxito nesta empreitada, mas como nesta vida nem tudo são exclusivamente flores, tenho que enfrentar galharda e corajosamente os perrengues da vida e as inúmeras, cruéis, repetidas injustiças e crueldades que o ser humano infringe ao seu semelhante, com a contrapartida do revide, da vingança. Trata-se de um processo contínuo, ininterrupto, constante!

Entre os judeus, surgiram ocasionalmente figuras que se tornaram exceções. Neste cenário despontam, por exemplo, o filósofo MARTIN BUBER que no século passado pregou veemente a filosofia da harmonia, da compreensão entre os homens, do humanismo através da dupla EU e TU. Infelizmente, o que prevalece na atualidade é a supremacia do EU, MAIS eu, sempre EU, EU, EU!

Mais recentemente, o grande escritor israelense AMOS OZ foi um exemplo de humanismo, defendendo os direitos dos judeus à posse e ocupação da terra de Israel, bem como o direito igual dos palestinos à posse e ocupação desta mesma terra. O ideal de sua vida era incentivar e implementar o sonho da convivência pacífica entre os dois povos com os mesmos direitos em relação a uma mesma terra.

Na arte, o grande maestro argentino, DANIEL BAREMBOIM, constituiu uma orquestra com músicos palestinos e israelenses irmanando-se na produção da música que é a linguagem dos deuses, atingível a todos os povos da Terra, não necessariamente de um esperanto comum.

A música é o esperanto dos povos que não vê e não acredita em fronteiras demarcadoras e limítrofes.

Para a minha tristeza e de muita gente do bem, a grande maioria dos homens de hoje, pelo mundo afora, é autocentrada, egoísta, tremendamente egoísta e por vezes, até cruel!

O último número da revista DEVARIM, editada e publicada pela Associação Religiosa Israelita, lembra através de relato brilhante e sempre oportuno de um dos mais eruditos judeus da atualidade e do qual tenho a honra e o prazer incomparáveis de ser sua amiga e de sua esposa Lea: Paulo Geiger, interessantes informações.

Peço licença ou no jargão dos advogados, peço vênia a ele e a revista Devarim para reproduzir “ipsis literis” o seu desabafo:

“Neste número da DEVARIM procurou-se fazer ressoar a voz de OZ para que não se cale nem seja esquecida. Para que conquiste corações e mentes numa jornada de contestação e de esperança, quando se mata em UTRECHT, em PITTSBURG, em ANEI, na NOVA ZEL NDIA, em SUZANO, ESTRASBURGO, PARIS, LONDRES, BOSTON, OSLO, CAIRO, MADRID, BARCELONA, BUENOS AYRES e onde não, como fato consumado, como perigo e como ameaça. Por que e para que?”.

Infelizmente, infelizmente, infelizmente!!!