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Os idiotas

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Essa palavra tem origem no termo grego ““ (idios) que significa privado ou pessoal. Aos poucos sua variante “idiotes” passou a designar as pessoas ignorantes e que só tinham ações ou opiniões ligadas aos seus interesses particulares.

O seu antônimo era o “polites” o cidadão que tinha a noção abrangente e um pensamento social. Era o melhor exemplo de um pensamento do renomado filósofo espanhol, Jos é Ortega y Gasset quando dizia que “Yo soy yo y mis circunstancia” e completava com “y si no la salvo a ella no me salvo yo”

O significado da palavra “idiotes” passou, com o tempo, a designar pessoas ignorantes que não possuíam inteligência ou dons para ocupar cargos públicos, pois alguém q ue não tivesse o pensamento abrangente não teriam capacidade para isto. Reduzir a sociedade como um todo ao seu próprio modo de pensar sem uma autocrítica abrangente pode levar a profundos desacertos que, certamente, levarão tempos enormes para serem corrigidos.

Isso vale para todos os outros campos de nossa civilização. Vemos isso de maneira crescente na atividade médica, onde a profundidade do conhecimento de seus princípios está dando lugar à superficialidade de noções específicas e, com uma frequência alarmante, sem estarem inseridas no todo da qual deviam fazer parte. A essência da Medicina está na relação médico-paciente, na anamnese e exame físico completos e no raciocínio clínico em função dos achados anteriores. Só a anamnese bem feita dá ao médico bem preparado 90% de possibilidades de uma hipótese diagnóstica correta antes de qualquer outro passo. Mas a idiotia da inconsequência está predominando na atualidade.

Vemos isso também em diversas áreas que deveriam ser públicas, mas que o pensamento “idiota” dos seus responsáveis, desprezando a sociedade como um todo se resumindo a procurar benefícios para situações ou grupos específicos disseminam benefícios específicos e, com isto, malefícios sócias.

Lembrando o pensamento de Ortega y Gasset, é hora da sociedade voltar a se interessar pelo bom andamento das diversas áreas que a servem, como a Política, a Medicina, a Educação e outras. A aproximação das pessoas em suas sociedades e no conjunto de instituições que as representam é extremamente importante para que as distorções nos projetos e na condução das mesmas possam ser corrigidos a cada passo. O uso das mídias ditas sociais afastam as pessoas e com uma frequência alarmante costuma colocá-las em constante confronto cada um defendendo seus pensamentos e desejos sem procurarem um aprofundamento dos mesmos e uma integração com as opiniões contrárias. Dão a noção que cada um é dono de uma verdade indiscutível.

E, para rematar, quero citar outro ensinamento que me foi de extrema utilidade tanto em minha vida pessoal quanto em minha vida pública. Ele diz que “a mensagem é de quem a recebe e não daquele que a emite”. Portanto, tudo o que foi aqui dito, fica à mercê de interpretações diversas segundo o pensamento de cada um. Só espero que isso possa servir ao aprofundamento de ideias e à noção de que a vida em uma sociedade é tanto, ou mesmo, mais importante do a vida particular de cada um de nós.

*Luiz Roberto Londres é médico e Presidente do Instituto de Medicina e Cidadania (IMC).

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