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Sem glúten

(da série me-engana-que-eu-gosto)

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Vínhamos eu e minha amiga S voltando do norte fluminense para a capital quando numa parada de estrada compramos uma garrafa de “água mineral com gás”. Ao tomar uns goles disse-me ela: essa água é mais gostosa que aquela de ontem. Perguntei-lhe de onde era a água e com o carro em movimento foi impossível ler as miniletras do rótulo, o que fizemos juntos na parada seguinte.

Concluímos que a água era de Raposo, distrito do município de Itaperuna, RJ, com alguma tradição no assunto “águas minerais” (meus pais iam lá deleitar-se com essas águas).

Mas um assunto puxa outro, perguntei-me “Águas minerais”? Porquê? Se bem me lembro das aulas de química a água é um mineral, portanto todas as águas são minerais. Qual será a água “não mineral”? Parece que alguém criou uma lei classificando as “águas minerais”, embora esquecendo de explicar quais são as águas “não minerais”!

Certamente para atender alguma lei ou portaria, o rótulo da garrafa informa ainda que a “classificação”, datada de 6 de janeiro de 2015 é “ÁGUA MINERAL FLUORETADA E HIPOTERMAL NA FONTE”, seguido das características físico químicas (acredito que na amostra desse dia 1 de janeiro de 2015, e nos outros dias?): pH a 25ºC: 5,83, temperatura da água na fonte: 25,1ºC (não era hipotermal?, faltou informar a temperatura do ar no momento da coleta), que a condutividade elétrica a 25ºC era 54,4µS/cm e o resíduo de evaporação a 180ºC “calculado” é de 51,86 mg/, que é “gaseificada artificialmente” e a validade do produto é de 12 meses “provavelmente” se conservado em local limpo, seco, arejado, sem odor e ao abrigo do sol (e eu pensando que a embalagem era impenetrável e para proteger disso tudo). Sabe-se ainda, pelo rótulo, que a composição química em mg/ era: Bicarbonato: 21,62; sulfato: 4,75; cálcio: 3,426; sódio: 3,344; magnésio: 2,095; cloreto: 1,78; nitrato: 1,44; potássio: 1,223; fluoreto: 0,06; bário: 0,030; estrôncio: 0,025; brometo: 0,01

Fiquei meio chateado em não me informarem se o pH e a composição química eram medidos antes ou depois da adição de gás, e que gás era esse.

Mas o que mais me chocou e impressionou foi descobrir um aviso, em letras bastante grandes perto das demais informações, dizendo: “NÃO CONTÉM GLÚTEN”.

Fiquei e estou até agora muito preocupado e estarrecido com essa informação pois certamente o aviso faz supor que deve haver “água com glúten” e não sei o que faço. Será a distribuída pela Cedae e pela Sabesp? Posso beber a “água da bica” como diziam todos antigamente?

Acho até que deviam esclarecer também se contém (ou não) e quanto contém de carboidratos, de proteínas, de vitaminas e de bom senso.

Os rótulos não indicam registro no CREA nem os alvarás da fonte e da engarrafadora. Será que posso beber em segurança? (fica a dica da boquinha para o CREA e as prefeituras)

Sobre o “glúten” os crentes que me perdoem, mas dietas ditas “saudáveis” são modismos que já existiam na época do velho testamento (quando se mencionam os charlatões), ou seja, coisa antiga que se baseia na propensão do ser humano em precisar acreditar nessas coisas, se não em busca da vida eterna, em algo do tipo.

Mas para quem acha que colocar aviso de “verifique se o elevador encontra-se parado neste andar” é importante, faz sentido. Afinal se a pessoa está distraída o suficiente para entrar no buraco negro enorme, deveria estar atenta a ler o aviso pois o esforço de distração parece menor... Ou então vai beber uma água não mineral e / ou com glúten (como será?) e vai morrer também.

* Engenheiro consultor

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