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O Museu Nacional, a negligência e o crime

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Se o laudo da Polícia Federal concluiu que o incêndio que destruiu o Museu Nacional da quinta da Boa Vista decorreu da ausência de disjuntores para dois (2) dos três (3) aparelhos interligados do ar-condicionado, se esse mesmo laudo concluiu pela provável presença de pelo menos um cabo de força continuamente energizado (provavelmente devido às deficiências do sistema de aterramento dessas instalações elétricas), é forçoso reconhecer e concluir que alguém do Museu Nacional deva ser apontado como negligente, incapaz, omisso, irresponsável, imprevidente no mínimo, senão até, criminoso...

Se o diretor do Museu Nacional fosse "um estranho no ninho"; um neófito servidor público que desconhecia as deficiências do Museu Nacional Nacional vá lá! Até se poderia entender, porque um tal cidadão manteve o Museu Nacional aberto e em normal funcionamento, pois ignorava suas deficiências! Seus perigos! Seus riscos! Até para seus visitantes, turistas, alunos, estudiosos, serventes.

Entretanto, e lamentavelmente, não é o caso que estamos comentando. O atual diretor do Museu Nacional não é "um estranho no ninho", nem tampouco um neófito servidor que apareceu pela primeira vez no mês de Setembro de 2018 no vetusto, remendado e carcomido edifício do Museu Nacional para dirigí-lo. Não!

O atual diretor não é um novato! Trata-se de um "ex-aluno", por assim dizer, é "prata-da-casa" como se diz vulgarmente. É um veterano cientista e pesquisador, que estudou e sorveu do caldo de cultura de cada um dos itens e dos objetos que compunham o imenso acervo daquele destruído Museu; Um homem que se aprofundou nas pesquisas dos fósseis postos à sua disposição, ao alcance de suas mãos e de seus olhos, bem como dos resultados e das conclusões das várias expedições de-campo que ele realizou Brasil afora, nas áreas da Paleontologia, da Arqueologia, etc., etc., tendo por cobertura e respaldo o nome e o prestígio do Museu Nacional. Ele próprio divulgava as suas expedições na mídia.

Desse modo, sabe-se do seu valor como um cientista de renomado saber e vasta cultura tendo transitado, certamente, por todos os departamentos, os organismos e as dependências físicas do Museu Nacional durante todos esses anos. Então ele sabia, e soube o tempo todo, dos "calcanhares-de Achilles" daquele imóvel.

Logo, é lícito e forçoso também concluir que o atual diretor conhecia sobremaneira a "sua casa de estudos" como poucos outros, e, portanto, do ponto de vista da lógica, da segurança, do bom senso e primordialmente da preservação do bem público e do patrimônio cultural, a sua obrigação maior como diretor era fechar -incontinente, no primeiro dia de sua gestão - o Museu Nacional, e entregar as chaves, com plena divulgação na mídia, ao Ministro que o nomeou...

Não tendo assim procedido, o diretor atual assumiu o risco. Permitiu que a tragédia se consumasse, que um incêndio, facilmente evitável, destruísse significativa parcela da História da Humanidade.

Daí a plena e total responsabilidade do diretor atual! Chorar a tragédia, é tão irrelevante e cínico quanto divulgar o envio de condolências à Notre-Dame incendiada. Pior ainda, é predizer e divulgar valores à guisa de futuros custos de uma mera restauração de paredes e compará-los, percentualmente, ao vulto das já declaradas doações prometidas aos franceses para soerguer Notre-Dame.

O dinheiro trará de volta o templo físico da França, mas, todo o dinheiro vislumbrado pelo diretor atual do Museu Nacional jamais trará de volta a Biologia; o Conhecimento, os vertebrados, os esqueletos das espécies já desaparecidas, ou das múmias egípcias (uma das quais tinha "a meia furada", nas palavras do meu filho caçula de 6 anos, quando visitou o Museu Nacional pela primeira vez. A informação era pertinente, pois ele observou os artelhos do pé direito...), as muitas coleções catalogadas pelo Museu ao longo das décadas; enfim, toda Ciência que se perdeu de uma expressiva parcela da humanidade, sobretudo dos povos e das raças que por aqui perambulavam antes da chegada de Cabral.

Pelas informações acima, de fácil verificação, deve o atual diretor do Museu Nacional ser apontado como responsável único pelo incêndio e pela perda do imenso patrimônio cultural do Museu Nacional.

* Francisco Lago é carioca, advogado aposentado, ex-professor, ex-dirigente escolar por quase uma década, pai de dois filhos e avô de 5 netos.