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Jenifer Selena Gomes

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Jenifer tinha 11 anos e foi a primeira criança morta por arma de fogo no Rio de Janeiro em 2019. Antes de morrer, houve tempo para Jenifer se assustar com o ferimento, chamar a mãe para vê-lo e pedir socorro. Uma viatura policial levou a menina para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, onde ela já chegou morta.

Nada supera o desespero e a tristeza do assassinato de uma criança, apesar do Brasil experimentar um dos períodos de maior imbecilidade política desde o fim da escravidão. Jenifer morreu com um tiro de fuzil no peito e não se conhece nem o autor do disparo. A polícia militar, como de costume, está entre os suspeitos.

Se o Estado do Rio de Janeiro falha e não evita que suas crianças sejam atingidas por armamentos pesados, imagine o tamanho do fracasso na Saúde, Educação e Cultura, por exemplo. Quem causou a morte de Jenifer não foi nenhum inimigo externo. Os assassinos não dão a mínima para a segurança da população pobre, eles compram jóias e promovem orgias em hotéis franceses com dinheiro público que deveria ser investido no bem-estar popular.

Morta depois de chegar da escola, descascando cebolas para ajudar a mãe com as tarefas do bar, Jenifer gostava de praticar educação física e queria ser matriculada no balé. A realidade, contudo, era mais cruel do que o sonho. A menina convivia diariamente com a violência e ações desastradas da polícia, que tem o hábito de entrar atirando na comunidade onde morava, em Triagem.

Vítimas como Jenifer podem se multiplicar através do embate entre a sede de sangue do governador, Wilson Witzel, e bandidos fortemente armados. Na porta do Instituto Médico Legal, Katia Gomes, mãe de Jenifer, exigiu que a polícia respeite os moradores das regiões dominadas pelo tráfico e defendeu o fim da política de execução de bandidos, que incentiva que a polícia atire sem pensar. Cabe à população se posicionar entre o apelo de uma mãe que acabou de reconhecer o corpo da filha, morta no início da vida, e o ódio de um homem que se elegeu sem nenhuma proposta digna para livrar crianças como Jenifer da pobreza e da morte prematura.

Meninas ainda praticam balé em segurança dentro dos condomínios de classe alta da Barra da Tijuca. Ou são levadas pelo motorista, não raro a bordo de um carro blindado, às melhores escolas da zona sul. Mas o Rio de Janeiro foi tomado pelo medo e também não pertence aos protegidos por segurança privada. A diferença, bastante significativa, é que disparos irresponsáveis da polícia e dos bandidos geralmente não procuram pessoas ricas e brancas.

Os altos escalões do Poder Executivo se apropriaram da ideia, bastante eleitoreira, de que o crime é consequência exclusiva da vontade do criminoso. Este pensamento ofende o caráter do povo do Brasil, onde a taxa de homicídios é trinta vezes maior do que a europeia, e ampara a política de extermínio de Bolsonaro e Witzel. Fato estatístico notório, a violência é menor onde há desenvolvimento social. Jenifer jamais viu desenvolvimento ou segurança e perdeu a vida porque elegemos espertalhões sem consciência ao longo da história.

* Escritor gonçalense