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O bloco na rua

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Peço licença ao cantor Ney Matogrosso para fazer uso do título de sua nova turnê musical para demonstrar uma análise da política que possa motivar o leitor a se posicionar de forma democrática diante da "avalanche" de tirania da maioria. Talvez essa inspiração tenha vindo da distância entre a qualidade do repertório musical reunida pelo artista num "manifesto" de reencontro com o Brasil pós 1974 em comparação com os descaminhos dos variados "bloquinhos" do oposicionismo.

Gleisi Hoffmann se esforça para ser uma "popstar" da articulação da política de unidade de um Bloco de Centro-esquerda que reforçaria a polarização das eleições presidenciais. Se a intenção é atrair as forças políticas do "centrismo", há uma sensação de eterno acúmulo de forças. Analisar alinhamentos políticos por compromissos partidários é "apequenar" a liberdade do Legislativo. Por outro lado, o pragmatismo político de PDT e PCdoB não deve ser a extensão de uma luta interna do campo democrático que só é saudável se envolver na sociedade.

No decorrer desses próximos dias, as eleições para a renovação da mesa diretora da Câmara dos Deputados é o primeiro teste da tentativa de sobrevivência da esquerda sem a dependência do "petismo". Contudo, essa esquerda já encontrou um discurso que lhe permita ser acolhida pelas camadas médias urbanas? Ela fez oposição à ditadura militar na segunda metade dos anos 70, com base no desencanto da classe média com o desastre econômico liberal-fundamentalista do "milagre".

A articulação parlamentar desorientada dos partidos políticos identificados com a esquerda seria reflexo da falta de uma política popular para colocar esse Bloco na Rua. A representação legislativa deve ser entendida como o espaço de pluralidade de outro Poder Político. Sua independência ganharia força na sociedade com o compromisso de aprofundar o "pacto social" expresso na Constituição de 1988. A universalização da saúde e o compromisso com a educação pública de qualidade merecem a sensibilidade das forças democráticas.

Rascunhar uma agenda política de iniciativas legislativas que desamarre a Câmara dos Deputados do simples acolhimento das iniciativas do Executivo seria um bom começo para um compromisso com as forças centristas. Uma legislação que permita o cidadão controlar e receber uma saúde pública de qualidade e a consolidação da expansão da rede de ensino integral no país. Um Bloco de todas as forças democráticas com essa espinha de compromisso com o social.

O jogo parlamentar é mais flexível que as diretrizes partidárias. Não é momento de jogar só para a torcida. Estamos no cenário apropriado para atrair setores que estão no outro lado pois foram cooptados na onda do "voto de fúria". Nunca a ideia de "Guerra de Posições" na política defendida por Gramsci esteve com tamanha validade para se aplicar em nosso país. Afinal, para continuar no uso teimoso das categorias gramscianas, o Brasil seria um exemplo da "revolução passiva" como nos indica a influência do ruralismo na representação política. Então, um Bloco do Campo Democrático no parlamento terá viabilidade se souber dialogar com os anseios da rua.

* Mestre em Sociologia e professor de História