ASSINE
search button

Que fim levou a centro-esquerda?

Compartilhar

A sociedade brasileira está silenciosa com os primeiros dias do novo governo, pois se consolida a opção de uma gestão voltada para garantir mais lucros para aqueles que mais têm. O pensamento econômico do Ministro da Economia é um remake do neoliberalismo dos tempos de Ronald Reagan (EUA) e Margaret Thatcher (Inglaterra) nos anos 80 do século passado. Na década de 90, seu ensaio em alta velocidade feita pelo ex-presidente Fernando Collor teve consequências desastrosas. E agora? Tudo indica que o gradualismo na implantação desse liberalismo extremado seja o novo perfil da política por meio de uma ameaça de populismo de direita. O Brasil se insere de forma submissa aos planejadores da elite econômica.

Trabalhador com direitos é “custo” ao contrário de investimento como princípio do valor social da liberdade da propriedade. Os mais pobres estão observando que foram esquecidos, pois não se fala mais em creches públicas como prioridade da Educação. As mulheres sem creche foram esquecidas pelo olhar cromático da ministra. Os jovens que estão fora das escolas estão esquecidos pelo ministro do guru Olavo de Carvalho. Os pobres representam custos. Fazer o bem aos mais necessitados é um problema que só manifestações de ideologia permitem a base eleitoral se defender. Por isso, eles parecem estar em eterna campanha eleitoral.

A política da centro-esquerda, expressa na Constituição de 1988, não foi banida de nossa mundo real. Ela, gradualmente, está sendo colocada na “periferia” como políticas compensatórias por um programa governamental cheio de contradições. Não me venham com as palavras de que ainda é pouco tempo para se avaliar o que teremos nos próximos anos. Sabemos que muitos que aí governam já estão na vida acadêmica e na prática pública há anos com essas ideias fundamentalistas em relação aos costumes e a economia brasileira.

Causa estranheza para as lideranças dos atores políticos do campo democrático o silêncio das camadas populares que se deixaram ser dirigidas pelas camadas médias urbanas. Contudo, essas mesmas lideranças deixaram que o centro político fosse esvaziado e permitiram uma falsa polarização da sociedade ente polos políticos que não agregam mais de um terço do eleitorado. A fragmentação do parlamento é demonstração dessa política de negação do centro. Um programa de centro esquerda requer mais criatividade das forças políticas da esquerda, ou seja, caminhar uma longa estrada de diálogo com a sociedade renunciando projetos eleitoreiros disfarçados de coerência programática. Fazer uma Frente Democrática exige reinvenção da prática política de muitos parlamentares para além de seus gabinetes.

O sectarismo ou a divisão da chamada esquerda brasileira expressa o quanto ainda não se aprendeu com a derrota eleitoral e política nas eleições de 2018. Não esperem um Apocalipse para o primeiro ano do mandado presidencial se não articularem de forma democrática a renovação das lideranças de oposição. Os métodos ainda são os mesmos de décadas passadas na proximidade de jovens que analisam a política em dogmas. Fazer ações comunitárias é uma sugestão para esse reencontro com a centro esquerda.

* Mestre em Sociologia e professor de História