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Como se participa da política contemporânea?

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A “carnavalização da política” é constante nos embates de opinião nas redes sociais. A crise da representatividade entrelaçou os desejos do cidadão em se ver livre das responsabilidades da participação política com uma empobrecida qualidade nos argumentos. A simplificação das ideias sugeridas por Alexis de Tocqueville, em “Democracia na América” (1835), demarcam os momentos em que indivíduo se expõe em público em forma virtual e sem responsabilidade com as consequências. Uma governança via “Twitter” é um cenário de nivelamento do debate da política para o perigoso terreno do despotismo da maioria.

A rotina do eleitor em momentos eleitorais é padronizada pela sedimentação da fragmentação dos itens programáticos numa teia de imagens desconectadas da realidade. Esse mundo social se alimenta na baixa qualidade da educação brasileira, pois o terreno dos sujeitos não valoriza o conhecimento. Portanto, as manifestações culturais são desqualificadas e/ou pressionadas pela censura de opinião. Ou seja, a censura opinativa passa a ser uma nova modalidade autoritária, em substituição da censura institucional.

Se não há uma educação da sociedade para a participação política, o indivíduo pode ser atraído para deixar a governança entregue às manifestações tecnocráticas que alimentam a concentração da renda nacional. A “jaula de ferro” ao qual Max Weber fez referência em suas análises sociológicas nos anos da crise do pensamento liberal alemão e anteriores à ascensão do nazifascismo. A representatividade política é transferida para atores políticos cada vez mais afastados da preocupação com a análise da realidade e das interpretações do país.

A “colonização cultural” americana nunca esteve mais ameaçadora no Brasil como nesses tempos de política contemporânea. As bases de interpretação de nosso país estão sendo questionadas de forma ideológica à medida que se faz um alinhamento subjugado ao “american way of life”. Na verdade, deixa a maioria da sociedade cultivando falsos debates sobre cores e dançarinos em hospitais enquanto tem gente com fome. As forças do neoliberalismo tentam fundar um novo país e necessitam alimentar uma participação política fragmentada.

Os grandes temas da grande política estão parcelados na agenda política, mas as forças democráticas ainda não encontraram seu discurso político para além de palavras de ordem. Não é só pela manifestação do desejo de unidade que teremos outra forma de garantia da participação política. A realidade precisa ser mais bem estudada e apresentada para uma juventude que está sem referências com a responsabilidade democrática da Constituição de 1988. Consequentemente, o mundo acadêmico e científico merece apoio e defesa de sua autonomia no campo do saber.

Os embates políticos que se aproximam exigirão a emergência de uma nova geração de lideranças. Elas se formarão no percurso de possíveis ataques ao modelo democrático e social construído na redemocratização pós-1985. Portanto, não há espaços para “voos” políticos sectários como se desenha na sucessão da presidência da Câmara dos Deputados. Um pouco de “emedebismo” não faz mal a ninguém. Nas palavras da poesia, “eles são muitos, mas não sabem voar”.

* Mestre em Sociologia e professor de História

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artigo | política