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A legitimidade do governo está condicionada

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Democracia direta mediante o uso massivo de novas tecnologias da informação e da comunicação traduz a evolução de uma sociedade organizada em rede, onde a sucessão efêmera de percepções vem efetivamente substituindo a consciência coletiva de um destino comum vivenciado através do tempo.

Fragmentação de imagens e assuntos, desagregação do tempo, simplificação das percepções: em vez de espaço político, percepções dominantes, tão efêmeras quanto interesses que as manipulam. Situação ideal é aquela em que todos os participantes são integrados num jogo de dependências recíprocas.

O debate político restrito a situações em vez de organizado em torno de princípios perde substância.

Talvez mais significativo é entender o conjunto geral de pressuposições, de crenças, de imperativos que dão sustentação para a forma como questões fundamentais para o País são tratadas ou percebidas.

Uma posição fixa em meio a uma infinidade de possibilidades não parece uma perspectiva atraente.

Anteriormente, havia que encontrar os meios para atingir determinados fins; nos dias que correm, trata-se de testar, um após o outro, os fins que se possa atingir com os meios de que se dispõe de fato.

O mundo moderno é, ao mesmo tempo, o mundo da difusão do poder e o da extrema concentração. Coexistem e opõem-se simultaneamente, pois o que produz eficiência em um é o que paralisa o outro.

Hoje a tecnologia modifica as condições de exercício do poder, mas não cria nenhum automatismo. É absolutamente necessário que instituições suficientemente fortes permitam conciliar pontos de vista.

O novo governo pretende que o Estado se torne um eficiente prestador de serviços à população: longe de ser dispensado de responsabilidades políticas, deve assumir o caráter político de escolhas. Escolhas estas que formam a base de uma comunidade humana e são a sua expressão mais profunda.

Haverá que trabalhar na construção de uma comunidade de comunidades, calcadas na negociação entre comunidades políticas diferentes e em princípios comuns que as tornem compatíveis entre si. É uma ilusão estabelecer um elo de solidariedade entre cada cidadão e alguma comunidade longínqua.

A legitimidade do governo está condicionada à sua capacidade de mobilizar de forma útil os saberes especializados.

A globalização nos obriga a refletir sobre a liberdade, a pôr a questão sobre seus fundamentos, sobre as instituições que garantem seu exercício e sobre seus limites. Fato é que não se pode pretender que globalização das trocas distribua, igual e automaticamente, a prosperidade entre todos.

A operação econômica pela qual se agregam as ofertas e as demandas somente terá sentido se determinadas condições de concorrência estiverem presentes, assim como se os agentes econômicos compartilharem dos mesmos valores e formarem, afinal de contas, uma autêntica comunidade humana.

Vantagens econômicas, exigência moral, tensões sociais devem ser levadas em conta por igual hoje. A organização democrática da interdependência supõe que o compromisso se torne a regra e, igualmente, que instituições sólidas organizem entre comunidades as mais sólidas vinculações possíveis.

* Engenheiro

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