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Gerando empregos com uma 'penada'

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Um dos principais desafios que os governos que acabam de assumir no âmbito dos poderes federal e estaduais é a rápida retomada da taxa de geração de de empregos. Além das reformas necessárias para criação de um ambiente econômico mais favorável para os investimentos, é fundamental diagnosticar amarras e princípios burocráticos que muitas vezes, para serem superados, sequer necessitam modificações na Constituição Federal ou modificações em leis federais ou estaduais, o que normalmente requerem grande tempo na tramitação e logicamente perda de oportunidades.

Um dos setores onde temos um déficit de comparativo de aproveitamento econômico diante do nosso potencial é do turismo, que além de ser grande gerador de empregos tem potencial de democratizar o impacto nos diversos níveis da cadeia, desde o setor hoteleiro, de gastronomia, até taxistas, guias turísticos, além de todo comércio que deriva desta atividade, que ainda tem aproveitamento pífio no país.

No âmbito do governo Bolsonaro existem sinalizações claras de que tal setor receberá um foco específico, não só pela origem política do presidente, que vem de um estado com grande potencial turístico, que é o Rio de Janeiro, mas também pelo alinhamento com o governador Witzel, que tem apresentado esse segmento como um grande potencial para geração de empregos para no futuro ser equivalente à própria indústria do petróleo.

Quando da escolha do Rio para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, foram realizados muitos investimentos na rede hoteleira, que afastou para bem longe o agouro dos pessimistas. Diziam que esta teria que ser atendida por navios ancorados no porto.

Em função daquele evento, somente no Rio foram investidos cerca de R$ 10 bilhões no setor, segundo estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis. Passamos de 28 mil quartos, em 2009, para 56 mil quartos por ocasião do evento! Entretanto, com o encerramento dos Jogos Olímpicos, o fantasma de ter uma rede hoteleira com vagas ociosas virou uma realidade. Os hotéis do Rio desde então chegaram a ter cerca de 40% de ocupação e muitos até fecharam; outros têm potencial de irem pelo mesmo caminho. Durante a Olimpíada, a ocupação chegou a ser de 94%.

No Rio, além das obras de infraestrutura, dos ganhos ambientais, das novas arenas e da melhoria da mobilidade urbana, treinamos milhares de jovens que se especializaram em carreiras do setor de Hospitalidade e Lazer. Eram jovens, muitos da rede estadual de ensino, e a maioria teve o seu primeiro emprego e se qualificou na prática para atuar neste segmento. Portanto, o desafio é retomar o turismo em alta, facilitando a atração de visitantes e gerando de novo esses empregos e oportunizando a grande imagem do Rio obtida internacionalmente, o que potencializa a imagem de todo Brasil. Na ocasião, mais de um milhão de turistas visitaram a cidade, sendo 410 mil deles estrangeiros. A maior parte desse quantitativo veio dos Estados Unidos (17%), demonstrando o potencial da captação de turistas daquele país.

Um grande empecilho, porém, que merece imediatamente ser revisto para potencializar a captação de turismo, é que o Brasil, por nossa diplomacia, alegando o “Princípio da Reciprocidade”, é um dos poucos países que exige vistos para turistas oriundos dos EUA. O governo federal também aplica tal exigência para visitantes do Japão, Canadá e Austrália, países que têm grande potencial de enviar turistas para o Brasil. Além disso, para países com potencial turístico e membros do Brics e que começam a enviar turistas para outros países, como Índia e China, também exigimos a emissão de visto para a entrada no Brasil para atividade turística.

Portanto neste contexto, e com a crise econômica e elevado nível de desemprego, vale manter o entrave baseado no Princípio da Reciprocidade, exigindo vistos daqueles mesmos americanos que representaram a maioria dos estrangeiros que tem nos visitado?

A resposta é lógica: Não! Já que para esses mesmos países não é exigido visto para acessar destinos turísticos que competem conosco em toda a região da América Latina. Para não perder a onda e em um pragmatismo econômico – o governo federal, através do Itamaraty, deve imediatamente buscar uma forma de eliminar tal exigência para um grupo de países que tragam potencialidades para incremento econômico na nossa cadeia de serviços, como: Estados Unidos, Japão, Canadá, Austrália, China e Índia.

Nas diversas atividades que desenvolvi no poder público, coordenando empreendimentos que geraram centenas de milhares de empregos, identifiquei que muitas vezes a ação afirmativa e de coordenação com o foco devido consegue apresentar grandes resultados e, portanto, no momento que se quebram paradigmas pelo governo federal na nossa própria relação entre países é fundamental que imediatamente sejam revistos esses entraves, e que por uma “mera penada” podem ser implementados, até porque, especialmente com esses países, não temos qualquer risco de receber fluxos migratórios impactantes que normalmente já recebemos de outros países de onde não exigimos vistos de entrada do país.

* Engenheiro, ex-secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo, ex-secretário de Educação e ex-presidente da Cedae

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