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O Outro Lado da Moeda - Excesso de otimismo?

CPDoc JB -
Petrobras
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As projeções do mercado financeiro para a economia estão otimistas. A Pesquisa Focus do Banco Central encerrada sexta-feira e divulgada ontem traz a elevação da taxa de crescimento do PIB de 2,53% (na pesquisa do dia 4) para 2,57%. O Bradesco é ainda mais otimista e projeta crescimento de 2,8% para o Produto Interno Bruto.

Mas, escaldado ou não com o superotimismo de abril de 2017, quando projetou crescimento de 3,7% para 2018, que acabou virando um bolo solado de 1,1%(previsão do Bradesco) a 1,3% (previsão do Itaú e do Banco Central, o Itaú está mais conservador e espera apenas 2,50% para 2019.

O crescimento baixo acumulado em três anos (menos de 5%), mal vai dar para recuperar 70% do que foi perdido nas recessões de 2015 (quando o PIB 3,5%) e 2016 (-3,3%). E muito menos retomar a trajetória do emprego. Pelas projeções do Itaú divulgadas ontem, mesmo com crescimento de 2,5%, a taxa média de desemprego vai cair dos 12,2% do ano passado (12,7% em 2017) para 11,7%. Ou seja, está caindo apenas 0,50 ponto percentual por ano o índice que saltou de 6,8% em 2014 para 8,5% em 2015 e atingiu 11,5% em 2016, só declinando desde o final de 2017.

Mas o Itaú acredita que com um crescimento de 2,50% será possível o governo Bolsonaro enrolar a credibilidade dos credores e os números da dívida pública bruta (hoje em R$ 5,2 bilhões) subirem apenas dos 77,5% de 2018 para 78,7% do PIB este ano, enquanto a dívida pública líquida (que desconta a fatia girada na carteira do Banco Central) subiria dos 54,6% de 2018 para 56,7% este ano.

Á parte os avanços ou não da reforma da Previdência, cujos efeitos só começarão a ser sentidos a partir de 2020/21, o Itaú vê algumas possibilidades de sucesso com receitas extras para abater o déficit público primário (em contar os juros da dívida pública), estimado em R$ 97 bilhões (R$ 113 bilhões no ano passado).

Os avanços seriam a realização do leilão da cessão onerosa do excedente do acerto entre a União e a Petrobras na Bacia de Santos. O Itaú estima receita de R$ 40/80 bilhões. Outros R$ 20 bilhões seriam arrecadados do leilão da faixa 5G na telefonia celular. Outros R$ 10 bilhões viriam de leilões de petróleo em rodadas da ANP e ainda poderia vir uma surpresa de R$ 25 bilhões se o BNDES elevar de R$ 50 bilhões para R$ 75 bilhões as devoluções dos empréstimos do Tesouro durante os governos Dilma.

Somados todos os prós, o nível da dívida bruta em relação ao PIB (2,5% de variação) cairia para 76,6%, frente aos 77,5% de 2018. E a dívida liquida recuaria para 55% do PIB, contra 56,7% no cenário sem receitas extras e 54,6% estimados para 2018.

Essas projeções estão aí mesmo para serem conferidas. Quem viver, verá.

Tropeço na largada

O governo Bolsonaro tem direito de nomear quem quiser para as diretorias e conselhos de administração das companhias controladas pela União. Basta que os indicados preencham os requisitos de ética, competência e eficiência, comprovadas na vida pública ou na iniciativa privada. Nada contra a nomeação do almirante de esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que foi comandante da Marinha até janeiro de 2018, para comandar o Conselho de Administração da Petrobras, uma indicação que teria sido feita pelo colega da Marinha, o ministro das Minas e Energia, almirante Bento Costa Lima. E muito menos ao conselheiro João Cox, economista especializado em química e petroquímica e que atuou como diretor da Braskem.

Mas a nomeação do engenheiro em geologia John Forman, PhD pela Universidade de Stanford (Califórnia, EUA), ex-presidente da Nuclebrás e ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), entre outras empresas, foi uma tremenda bola fora, pois entra em conflito com o reinado da ética e da transparência alardeados como virtudes e princípios do governo Bolsonaro.

Nota da Petrobras dedica quatro parágrafos a Forman, um a Cox e dois a Leal Ferreira, mas não diz que quando era diretor da HRT, atual Petrorio, Forman foi condenado pela Comissão de Valores Mobiliários de usar informações privilegiadas da empresa para negociar ações da companhia antes de dar conhecimento público de eventos aos mercados. Recorreu ao Conselho de Recursos da CVM e a multa foi mantida. Estava em débito até a metade do ano passado.

Ducha de água fria

Até duas semanas, a parte mais eficiente do mercado financeiro, as cinco instituições que mais acertam as pesquisas semanais do Relatório Focus do Banco Canetral sobre indicadores macroeconômicos, apostava que não haveria alta da taxa básica de juros do Banco Central, a taxa Selic, atualmente em 6,50%. Pois ontem os Top 5 assumiram a mesma posição do mercado: a Selic deve fechar 2019 em 7% e subir para 8% ao ano em 2020. Só o Itaú, sustenta, em projeção também divulgada ontem que a Selic fecha o ano estável. O Bradesco vai além e espera alta para 7,25% ao ano.

Se os juros básicos devem subir, imagine os juros bancários que continuaram em alta mesmo quando a Selic despencou nos últimos dois anos e até depois de o Banco Central liberar R$ 28 bilhões dos recolhimentos compulsórios dos bancos no 2º semestre de 2018...

Euforia na B3

Ao subir 0,87% ontem, o Ibovespa acumula ganho de 7,5% no ano. É metade dos 15% registrados em 2018.

Público X Privado

Com as mesmas 4,7 mil agências, o Bradesco, que lucrou R$ 14,5 bi até setembro, cortou duas (33%) das seis vice-presidências. Já o BB, que lucrou R$ 9 bilhões, mantém 9 vice-presidências e 27 diretorias.

Troca de guarda

Tenho agora a árdua missão de substituir, todas as terças-feiras, a competência de Renê Garcia Jr, que assumiu a secretaria de Fazenda do Paraná.