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Precisamos falar sobre termografia

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Termografia. A técnica não está entre as mais conhecidas pela sociedade, mas sua utilidade para diversos setores é indiscutível. O método consiste no registro das imagens infravermelhas emitidas por corpos quentes, sejam estes vivos ou inanimados, como equipamentos, motores, redes de transmissão elétrica e carros de corrida.

Essa técnica tem possibilitado a coleta de informações sobre a produção e transmissão de calor, sendo útil em setores de engenharia, agricultura, veterinária, medicina, segurança, entre outros. Cada área específica desenvolve continuamente termógrafos e softwares capazes de auxiliar na interpretação das imagens captadas – os termogramas – e trazer um mundo de informações.

Diante de tantas utilidades, a área pode e deve ser cada vez mais desenvolvida. No Brasil, a termografia é utilizada na medicina em mais de 50 centros, principalmente em São Paulo. Dispomos do primeiro curso de especialização de Termografia e Termologia na USP (Escola de Educação Permanente), vinculado ao departamento de neurologia e à Abraterm.

Comparado a outros tipos de exames, o investimento inicial é relativamente baixo (cerca de R$ 40 mil), apresentando a principal vantagem de ser não invasivo e um exame funcional, pois não emite nenhum tipo de radiação, apenas registra o que emitimos de raios infravermelhos.

A Coreia do Sul, por exemplo, é um dos países asiáticos onde a termografia é mais desenvolvida e utilizada, como no monitoramento de passageiros nos aeroportos para identificar, através da temperatura do canto interno dos olhos, se a pessoa está com febre.

Esse recurso é particularmente importante nas epidemias de gripe, uma vez que o transporte aéreo é um grande disseminador de vírus e bactérias ao redor do mundo. Foi útil durante a gripe causada pelo ebola ou aviária há alguns anos: rapidamente, registrou-se as pessoas com febre em grandes aglomerações para facilitar a investigação do problema antes do próprio indivíduo se queixar de outros sintomas mais evidentes.

A termografia também pode ser uma aliada da agricultura. Na Califórnia, o uso de kit com termógrafo em drones permite o sobrevoo da área plantada e identificação da distribuição de água. O objetivo é economizar e irrigar a plantação de maneira uniforme e dentro dos cálculos matemáticos do software instalado no computador que avalia as imagens. Essa medida é particularmente importante por conta da escassez de água naquele estado norte-americano. No Brasil, a tecnologia já é empregada e contamos, inclusive, com cursos de treinamento para pilotagem do drone e uso do software.

Já na área veterinária, a termografia infravermelha acrescenta aos exames de radiografia elementos que indicam se há inflamação na área examinada. Isso é de suma importância devido à dificuldade de comunicação dos animais e permite que a inflamação seja descoberta antes da dor se tornar importante.

Outra solução é trazida para um dos grandes problemas dos prematuros: a perda de calor. A monitorização precisa da temperatura corporal total pode trazer informação precisa quanto à dissipação de calor, necessidade de aquecimento ou ativação do metabolismo do bebê com muita precisão. De acordo com a área corporal, a temperatura ou a capacidade de manter o corpo aquecido varia muito ao longo do dia.

Nos departamentos de polícia nos Estados Unidos também está um caso interessante: helicópteros equipados com câmeras que captam imagens infravermelhas possibilitaram encontrar o corpo “quente” de um foragido mesmo sob a coberta de um barco. Esse recurso é utilizado para fazer buscas em grandes áreas de dia ou à noite, e auxilia também na procura por pessoas perdidas.

* Dermatologista pós-graduada em Termografia Médica pela Faculdade de Medicina da USP