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Nunca, outra vez!

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Publiquei um livro em 2011 cujo título era “O ódio entre os homens, o antissemitismo, o mais longo dos ódios”. Nesta vida, os acontecimentos vão ocorrendo, por vezes, de uma forma inesperada. Outros vão sendo programados.

Em uma estadia em Nova York, há tempos atrás, folheando livros em uma livraria, deparei-me com um exemplar cujo título “Never again?” (Nunca, outra vez?) chamou minha imediata atenção. Resolvi comprá-lo e iniciei a lê-lo logo. Fiquei muito impressionada e perturbada, à medida que a leitura ia se desenvolvendo. Fiquei informada de que existia uma organização judaica muito atenta e informada, a chamada Anti Defamation League, cujo propósito era zelar e descobrir atos e manifestações antissemitas através do mundo inteiro. Eram donativos poderosos e outros nem tanto que sustentavam tal organização.

Infelizmente, tais manifestações antissemitas não cessavam de surgir e de se manifestar nas diversas partes do mundo e um grande número na democrática e ao mesmo tempo racista nação norte-americana.

O autor Abraham Foxman lança a pergunta-chave que serve de título ao livro: “Nunca, outra vez?” como uma indagação sofrida. A sanha nazista assassinou seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial. O Holocausto foi um dos maiores massacres que já ocorreram na história mundial e hoje, na mais poderosa nação do mundo, estão acontecendo aqui, ali, acolá perigosas manifestações antissemitas. Muito recentemente, em Pittsburgh, em uma pacata sinagoga, durante um Shabbat, um fanático louco entrou atirando a esmo e assassinou 11 vítimas inocentes, na sua grande maioria, homens e mulheres idosos que estavam rezando, nada mais do que isso. Estavam orando, prestando homenagem ao Criador, no dia da semana dedicada à família, às orações.

A pretensa justificativa ou explicação apresentada pelo assassino era de que os judeus estariam incentivando a chegada de refugiados aos EUA, o que estaria implicando em menos oportunidades de emprego e qualidade de vida aos americanos. Onde está a empatia, a capacidade de entender os sentimentos e os problemas de outros? Onde está a capacidade de entender e se solidarizar com a dor e o sofrimento alheio?

A verdade é que, nós humanos, devemos prestar atenção às necessidades dos outros porque haverá ocasiões em que as nossas necessidades devam ser compreendidas e atendidas pelos outros.

No mundo de hoje, cada um vive olhando para seu próprio umbigo, não se pondo disponível para sair de seu próprio. Segundo o último parecer da autoria da psicóloga pós-doutoranda Mônica Portella, autora de um artigo publicado no JORNAL DO BRASIL no dia 1º de novembro de 2018: “Quanto maior for a nossa disponibilidade para sairmos de nosso próprio mundo, procurando ver o outro a partir de sua perspectiva, sem julgamento e de coração, mais aptos estaremos a desenvolver relacionamentos harmoniosos, significativos e muito gratificantes”. E ela termina com uma invocação: “Por um mundo mais empático e mais tolerante”.

Muito infelizmente esse desejo tão válido é pura utopia!

Onde está a segurança nas escolas americanas, nos lares, nos mais sagrados lugares? O tresloucado atirador da Sinagoga Árvore da Vida, em Pittsburgh, quando assassinou famílias que estavam tão somente professando a sua fé. Além das 11 vítimas fatais, seis outras foram feridas, inclusive quatro policiais, enquanto gritava: “Jews must die” (“Morte aos judeus”).

O ódio está crescendo nos EUA. O Rabino Marvin Hier, fundador e decano do Centro Simon Wiesenthal declarou ao “New York Times”: “Tenho medo de afirmar que estejamos no início do que aconteceu na Europa, os consistentes ataques antissemitas. Eu temo que o pior ainda está para vir”.

Robert Bowers – é esse o nome do assassino de Pittsburgh – exclamava: “Judeus são filhos de Satan” e, mais adiante, “Eles são o nojento mal. Judeus incentivando a vinda de nojentos muçulmanos do mal para o nosso país”. Tais declarações violentas foram motivadas em parte pela generosidade e empatia que muitos judeus manifestaram com os refugiados não judeus através de conflitos mundo afora.

O que aconteceu nos EUA é copiado ou motiva os outros países do mundo.

Eis aí o grande perigo!

Não deixemos que uma vergonhosa página da história mundial se repita!

A interrogação: “Never again?” se transformará em uma afirmação: Never again. Nunca, outra vez.

* Mestre em Educação pela UFRJ