ASSINE
search button

A defesa da democracia

Compartilhar

O momento pós-eleitoral é sujeito a inúmeras especulações. Diversas considerações são feitas com um olhar nos fatos aprisionando a política. O resultado eleitoral não pode ser confundido com o fim de um período da história republicana. A Nova República (nascida em 1985 e consolidada na Carta Constitucional de 1988) ainda segue seu curso, mesmo sob a possibilidade da consolidação de um projeto ultraliberal na economia aliado ao conservadorismo nos costumes. Entretanto, a democracia brasileira está sofrendo ameaça por causa do descrédito nas organizações políticas. Assim, um novo ministério está em formação com características centralizadoras e tecnocráticas. Sem cores partidárias, mas com um forte viés economicista.

A ameaça à continuidade das instituições democráticas vem desde quando a “antipolítica” ganhou força no cenário político nacional após as jornadas de junho de 2013. Nas eleições posteriores, o “Não Voto” (abstenções, branco e nulo) ganhou um protagonismo que não foi reduzido nas recentes eleições. Agora, esse fenômeno da “antipolítica” veio articulado ao “Voto de Fúria” da sociedade, que ampliou a fragmentação da representação política no Congresso Nacional e reduziu o peso político dos atores do Centro.

O perfil da nova representação do Congresso Nacional é favorável às forças do chamado “baixo clero”, ou seja, aqueles parlamentares que não desejam ficar em evidência no noticiário e realizam negociações no “varejo da política”, nos bastidores. O futuro ministro da Casa Civil precisará demonstrar uma qualidade de articulador político que ultrapasse os limites das forças vitoriosas. Caso contrário, o jogo parlamentar estará entregue ao “mais do mesmo” e aprofundará a nossa crise de representatividade.

O corpo jurídico conservador poderia ser um “fantasma” a rondar esse caminho para a implantação de medidas econômicas impopulares. O silêncio conivente do “baixo clero” só seria quebrado pela organização da sociedade por atores políticos que precisam estar atualizados para uma sociedade que se modernizou sem se vincular ao perfil democrático. A defesa da democracia não é uma figura de retórica. A tendência à centralização das decisões sob um olhar de “moral econômica” está germinando. Poderá ser o começo para uma futura e ampla reforma na Constituição que consolide o grupo governante.

Os “Saquaremas” do Império (centralizadores) se aliaram aos “Luzias” (liberdade econômica) numa conciliação da elite empresarial brasileira com a classe média tradicional e novos segmentos do mercado de trabalho. Contudo, as ameaças autoritárias de alguns segmentos poderão criar tensões nesse Bloco Político Conservador que ainda não se consolidou. Portanto, a defesa da democracia passa pelo resgate da Constituição de 1988.

Os valores democráticos e sociais da Carta de 88 precisam ser fatores de mobilização da sociedade. Um amplo movimento em defesa da Constituição significa lutar pela regulamentação e melhor execução de suas conquistas. Nossa juventude desconhece a íntegra do corpo jurídico de nossa nação. Assim, uma nova forma de abordagem da sociedade passa por uma juventude que se engajou na reta final das eleições como defensora da democracia.

Vagner Gomes de Souza*

* Mestre em Sociologia e professor de História