A maior parte dos brasileiros torce para a melhoria das condições de empreender e produzir, em especial para os pequenos e médios produtores rurais. Muitas vezes o proprietário rural é um médico ou engenheiro que sentem enorme orgulho de produzir frutas ou leite, gado de corte ou suínos, eucaliptos ou cavalos ou uma mescla de centenas de alternativas, com variações regionais.
O empreendedor rural precisa desse sentimento gratificante que é ver o resultado concreto de um esforço envolvendo terra, trabalho e seu capital, mesmo quando pequeno. Mágica, a dedicação à produção de alimentos promove lazer, felicidade, pequeno lucro ou prejuízos... Nem os sucessivos frustrantes resultados financeiros desanimam a maior parte dos produtores. Quase sempre pela simples razão de que aquela faina é sua vida, a sua terra; não há outras possibilidades. Várias vezes a manutenção da atividade se dá pela imposição de um auto desafio. Também ocorre por uma tradição ou gratidão: “ meu pai garantiu meus estudos explorando essa gleba, produzindo 150 kg de leite/dia...não me esqueço...” As propriedades rurais são sustentadas por raízes; para sobrevivência ou por estímulos nobres variados.
Essa divagação talvez não faça muito sentido para um empresário que tem milhares de hectares plantados em soja ou milhares de cabeças de gado para corte. Mas quem nasceu, viveu, em regiões de minifúndios sabe bem do que escrevemos. Novamente exercito minha preocupação com a falta de equilíbrio entre o nível de influência que exercem os grandes e os desorganizados pequenos e médios heróis da produção no Brasil. Estou novamente lembrando dos bancos oficiais ou privados que fazem coloridos anúncios de ode a uma figura de chapéu de palha no campo (um modelo publicitário), mas, quando recebem uma pessoa desse mundo real na agência para conversar sobre financiamentos, encaminham para o atendimento automático, de máquinas que não falam, não respondem, não prestam para a função de entender, conversar, financiar.
Tragédia de igual tamanho surge quando produtores negociam (fragilizados) com os compradores industriais que processam a produção primária. Na transição de governo que ocorre alguém já vê sinais de mudança para os produtores rurais que destinaram milhões de votos à alternância de poder na qual depositaram esperanças de novos dias? Talvez não, mas vamos desanimar. Ainda é cedo, nem começou. A futura ministra é bem preparada. Mas, é bom ficarmos atentos: lobistas de terno e gravata são os que entram nos gabinetes e geralmente é mais fácil atender a grandes senhores, pois a tendência a louvar o tamanho é predominante, traiçoeira tendência .
Entendemos que vamos começar bem se houver um diagnóstico setorial/regional aberto, bem divulgado. E, ao final, no tempo certo, propostas igualmente bem disseminadas, fundamentadas que olhem para a questão econômica, a financeira e a social do conjunto dos produtores e não só dos abastados reis do famigerado “agronegócio“. As políticas públicas a serem implementadas deverão ser coerentes com o aumento do acesso da maioria aos fatores que favoreçam a universalização da produtividade. Falamos do valor da maioria, democrático e exemplar conceito presente no discurso do candidato eleito e parece ser um norte a ser seguido.
O novo governo, já no período de transição, poderá se informar, entender e divulgar a adequação da destinação de recursos do Plano Safra. São bilhões de reais, milhares de razões para uma avaliação construtiva e eventuais mudanças necessárias, olhando a atividade da produção rural no seu conjunto.