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Os predicados de Ceciliano

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Ricardo Bruno*

Mais do que uma reunião protocolar, na qual, em regra, platitudes e salamaleques preenchem a pauta, o encontro entre o governador eleito Wilson Witzel e o presidente da Alerj, André Ceciliano, produziu resultados objetivos alvissareiros. De imediato, contribuiu para que fosse firmado tacitamente um pacto pela governabilidade. O clima cordial entre os dois aponta para um relacionamento amistoso de confiança mútua. Witzel precisa neste momento de Ceciliano, que se mostra mais uma vez cordato na tarefa de construir pontes para a garantia de uma transição sem sobressaltos. Há também que se registrar uma inevitável consequência colateral: o governador eleito se convenceu do decisivo papel de Ceciliano na construção de maiorias no parlamento – trabalho essencial para a garantia da governabilidade. E isso pode ajudá-lo a remover resistências e ampliar as chances de permanecer à frente da Casa no próximo biênio.

O zelo de Ceciliano no encaminhamento de questões de interesse do próximo governo distensionou a relação entre parte dos deputados envolvidos na disputa pela presidência. O comportamento do petista fez aplacar a resistência de alguns parlamentares que nele enxergavam a possibilidade de uma atuação pouco efetiva na condução de matérias governamentais.

Logo após o encontro com o governador eleito, o presidente em exercício reuniu o Colégio de Líderes e definiu o calendário de votação das matérias de maior relevância para a próxima administração. A rigor, pautou dois projetos vitais: o que prorroga o estado de calamidade financeira, cuja vigência desobriga o governo do cumprimento de investimentos mínimos em saúde e educação; e o que prevê a renovação do Fundo de Combate à Pobreza, cuja receita é fundamental para os cofres do estado neste momento de esforço para a obtenção do reequilíbrio fiscal. Assim, com atitudes práticas, Ceciliano está removendo óbices e avançando nas articulações entre as bancadas para granjear apoios na próxima eleição da Mesa.

Formado em Direito, prefeito de Paracambi duas vezes, André Ceciliano foi reeleito para o quarto mandato de deputado estadual. Com o impedimento do presidente Jorge Picciani, recebeu a missão de presidir a Casa num momento delicado, em meio à operação Lava Jato, durante a qual vários parlamentares foram denunciados ou delatados como beneficiários da máquina de propinas operada pelo grupo político do ex-governador Sérgio Cabral. Incólume neste tsunami ético, Ceciliano conseguiu juntar os cacos de um parlamento degradado por denúncias de corrupção e se impor com maestria na articulação política entre as diferentes bancadas. Deu cambalhotas; fez piruetas, mas conseguiu aprovar as medidas do Plano de Recuperação Fiscal. Foi seu teste de fogo. A tarefa quase custou-lhe a expulsão do PT. Ao votar pela possibilidade de privatização da Cedae, o partido o afastou temporariamente e abriu um processo de expulsão no Conselho de Ética.

À época, Ceciliano argumentou que o apoio ao acordo visava pôr fim aos atrasos salariais dos servidores e ao risco, então iminente, de a Polícia Militar deflagrar greve geral.

Nesta semana, mais uma vez os fatos se encarregaram de deixar à mostra sua ilibada conduta no exercício do mandato. Em mais uma operação da Polícia Federal, vários deputados foram presos, acusados de recebimento de propinas durante o governo de Sérgio Cabral. Entre eles, o seu principal oponente na disputa interna: André Correa, do DEM. A razia decorrente de mais uma investida da Justiça Federal contra o parlamento fluminense expõe seus predicados de honorabilidade em contraste com outras lideranças abatidas em pleno vôo para decepção da sociedade fluminense.

O destino levou Ceciliano a presidir a Assembleia Legislativa num momento conturbado e difícil. A habilidade e a firmeza o fizeram, contudo, se firmar como uma liderança reta e confiável na condução da Casa. Não há exatamente restrições a seu nome, que não apareceu em denúncias, tampouco em delações. Nada existindo contra ele, tentam criminalizá-lo por ser inscrito no PT. Um acusação frágil, fundada no preconceito, apartada de qualquer razão ética objetiva. A seu favor, ele tem predicados importantes: experiência, habilidade no trato com os parlamentares e conduta ética irretocável. Convenhamos, não é pouco.

*Jornalista