ASSINE
search button

Tudo depende de uma concepção de futuro

Compartilhar

O primeiro presidente a cuidar sistematicamente das implicações do papel mundial desempenhado pelos Estados Unidos foi Theodore Roosevelt, em 1901. Um autêntico cosmopolita, que cultivava a postura de um trabalhador de fazenda, era um político de sutileza superior ao que supunham seus contemporâneos.

Roosevelt buscava um conceito de política externa que fosse baseado em grande medida em considerações geopolíticas, algo sem precedentes para o país. Para o presidente, a política externa era a arte de adaptar a política americana ao equilíbrio de poder global, de um modo discreto e resoluto.

“Tudo o que este país deseja é ver seus vizinhos num ambiente de estabilidade, ordem e prosperidade”, escreveu o determinado presidente americano. Num ambiente como esse, a democracia não era apenas a melhor forma de governo; era também a garantia de uma paz permanente.

Uma ordem internacional pacífica, baseada no império da lei, poderia, então, vir a ser alcançada. Hoje, bem sabemos que a balança de poder entrou em colapso a partir de 1914, e perdurou até 1945. O desafio geopolítico de 1945 era bem mais complexo do que qualquer outro enfrentado anteriormente.

Os Estados Unidos ajudaram a reconstruir as economias devastadas da Europa, criaram a Aliança do Atlântico Norte e formaram uma rede global de parcerias econômicas e na área de segurança. Projetaram um sistema de livre comércio que esteve na linha de frente de todas as revoluções tecnológicas.

A tecnologia moderna se integrou de tal maneira à vida cotidiana a ponto de definir seu próprio universo como único relevante. É essencial que se promova uma tentativa de mapear a percepção comum da nova condição em que nos encontramos. Pois ações empreendidas no mundo virtual, interligado por redes, são capazes de gerar pressões incontroláveis por contramedidas na realidade física.

Se a antiga diplomacia fracassava ao deixar de estender apoio a forças que moralmente o mereciam, a nova diplomacia corre o risco de intervir sem capacidade de exercer uma liderança coordenada à estratégica.

A política externa está sob a ameaça de se transformar numa simples subdivisão da política interna, em vez de ser um exercício de formulação do futuro. Os remédios para seus problemas aparentemente são compreendidos internacionalmente, porém não existe consenso sobre sua aplicação.

O novo governo deve atentar para novas relações de poder. Em parte devido às razões tecnológicas, o poder assume a forma de um fluxo sem precedentes: quando interações entre sistemas de valores se dão de forma instantânea e de modo invasivo, os cálculos sobre equilíbrio de poder ficam obsoletos.

Tudo depende de uma concepção de futuro. O Brasil precisa de uma diplomacia à altura desta complexidade. O presidente eleito já reafirmou que precisamos reformular a nossa estratégia comercial.

Se China e Estados Unidos são os principais parceiros, em volume de exportações e importações, esta reorientação por certo vai exigir uma modernização do nosso atual sistema de trocas comerciais.

Se discussões a respeito de prazos e negociações tomam muito tempo da diplomacia atualmente, a natureza e a periodicidade das reuniões devem trabalhar para a elaboração de estratégia de longo prazo.

* Engenheiro

Tags:

artigo | eua | governo | jb | opinião